Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

17
Ago 08

 

Os dias não têm sido particularmente felizes em Pequim... pelo menos para os lusitanos. Depois da desilusão de Telma Monteiro, uma das grandes esperanças do judo, foi a vez de Obikwelu nos deixar de ombros caídos. Porém, e creio que é isso o mais importante, nenhum deles teve uma má prestação, nenhum envergonhou as cores do país que ostentou. Ambos deram tudo, até à última. Ambos acreditaram, como todos nós.

E se analisarmos as tarefas de ambos com maior pormenor podemos questionar a sorte portuguesa. E isso existe? A Telma teve logo de se defrontar com a judoca da casa. E, depois, no duelo frente à espanhola, a outra podia ter sido penalizada por falta de combatividade e não o foi.

Obikwelu teve duplo azar: não só calhou na série com melhores atletas das meias-finais, como nas séries que disputou houve sempre algum colega que se lembrou de cometer uma falsa partida. E, verdade seja dita, Francis teria muitas mais possibilidades de estar na final se não fosse essa falsa partida. A pressão aumentou e o medo de cometer nova falsa partida contribuíram para um arranque castrador que não deu hipóteses ao português. No fim, manteve a humilde atitude de sempre, o enternecedor respeito ao povo português e, infelizmente, aquele olhar triste de quem queria muito mais e de quem merecia muito mais. Devemos lembrar-nos que até o grande Tyson Gay ficou de fora das finais. Obikwelu deixa, sem dúvida, um enorme vazio ao terminar a sua carreira mas, tal como Nuno Delgado, optou por colocar as questões de saúde em primeiro lugar.

Mas se é lamentável que o trabalho dos portugueses em competição não esteja a ser devidamente recompensado, também o é a falta de notícias acerca de muitos artistas do palco de Pequim.

 

 

É o caso da fantástica Jessica Augusto que estreou uma nova modalidade nas Olimpíadas: 3000m com obstáculos, prova que exige resistência e agilidade. Fez uma prova extraordinária e só nos últimos momentos, por um pequeno descuido, não conseguiu ser apurada.

A natação, modalidade muitas vezes deixada para segundo plano, tem-nos contemplado com grandes provas. Tiago Venâncio, Diana Gomes e Pedro Oliveira fizeram boas prestações no Cubo e bateram alguns recordes pessoais. Mas para todos aqueles que vibram com a natação, como é o meu caso, Michael Phelps não pode passar indiferente. E, de repente, algures entre o momento em que ele mergulha naquela piscina e aquele em que toca a mesma em primeiro lugar vemo-nos a torcer por ele, a desejar que vença mais um recorde (mundial ou olímpico, pouco importa). O que é certo é que o "tubarão" de Pequim já fez história ao bater um novo recorde, tendo levado com ele todas as medalhas de ouro que podia: 8 ao todo! E o que tem este menino de português? O extraordinário fato de competição! Já é qualquer coisa...

 

 

Mas também no atletismo, na final dos 100m (da qual Francis foi afastado) deu prazer ver o jovem-sensação do momento e a naturalidade com que bateu todos os adversários: o jamaicano Usain Bolt. Com facilidade e estilo venceu a prova, bateu um novo recorde e deixou a promessa de que continuaremos a ouvir falar dele. Quem o vê correr chega a acreditar que é fácil...

Entretanto a vela silenciosa e discreta, como sempre, vai prometendo bons resultados.

Agora resta esperar que Vanessa Fernandes, Nélson Évora e Naide Gomes sejam capazes de tecer eles próprios a sua sorte e lutar pelos merecidos lugares no pódio olímpico. Que saibam deixar a pressão e as enormes expectativas dos outros de lado, tal como diz a Vanessa no excelente anúncio da Nike. Just do it.

Mas depois de toda esta maré de azar já não sei nada...

Aliás, agora que o Hulk deixou de ser verde e veste azul e branco em campo e que o inesperado aconteceu e a Taça Eusébio não ficou na Luz... já acredito em tudo...

 

 

Felizmente a noite trouxe algumas alegrias com a disputa da Supertaça Cândido de Oliveira. Pelo menos a alguns. No estádio do Algarve aconteceu um grande jogo, com duas grandes equipas que começaram já a mostrar que a nova temporada promete. Foi uma noite brilhante. Com um Yannick (finalmente) determinado e confiante a marcar dois belos golos, com um enorme Rui Patrício, muito seguro, a evitar as grandes oportunidades dos dragões e com um momento de glória quando conseguiu continuar enorme, mesmo perante um também grande Lucho. Foi ainda noite de um cada vez mais determinante Rochemback e de um perfeito e sempre presente Izmailov.

 

 

O Sporting mostrou ter uma verdadeira equipa a todos os níveis, tanto na forma como trocam a bola e parecem estar bastante integrados, como no que se refere ao companheirismo, quando todo o banco se agarrou ao miúdo para festejar os golos ou quando fizeram questão de não esquecer o tão adorado Paulinho no momento do troféu.

 

 

Por fim, foi o pequeno João que se tornou outra vez grande ao erguer em mãos o troféu e, simultaneamente, esboçar o sorriso da definitiva reconciliação com os adeptos. Sim, é verdade: a imagem parece sempre a mesma, mas garanto que não é. Os fotógrafos não têm culpa que o Moutinho passe a vida a erguer taças e até supertaças. Habituem-se!

Mais uma Supertaça, mais uma prova de que o Porto não tem de ser a melhor equipa. Basta que não os deixemos. Basta acreditar e concretizar, sendo melhor. E, ontem, o Sporting soube como conseguir ser melhor, tal como há um ano atrás.

Agora é esperar pelo início da tão ansiada nova época! Boa sorte, leões!

publicado por Vânia Caldeira às 17:00

02
Jul 08

 

Não sei se no futebol se aplicam as fatídicas leis do Destino. Mas, certamente, as da sorte, do azar e dos acasos funcionam, como em todas as circunstâncias da vida.

E o Europeu deste ano foi fértil em ironias...

As exibições nas últimas competições europeias ou mundiais não têm deixado saudades aos espanhóis. Talvez por isso, a selecção espanhola foi aquela que, este ano, apresentou no seu autocarro a frase mais céptica de todas: "Pase lo que pase, España siempre". Tem tanto de desconfiança face ao futebol praticado, como de orgulho em ser espanhol. Esse inabalável orgulho que não deixa espaço, na língua de "nuestros hermanos" para estrangeirismos. Orgulho de louvar, sem dúvida...

Fiquei particularmente feliz com a vitória espanhola. Desde o primeiro jogo frente à Rússia que a Espanha mostrou um futebol fluido mas, sobretudo, que prima pela organização, pela excelência na troca da bola. Um futebol inteligente. A Alemanha, mais cínica e calculista, vinha sendo implacável na destruição dos adversários com a melhor, mas também a mais dura das armas: a da eficácia. Quem quer ver espectáculo não assiste a um jogo alemão... Mas, o que é certo, é que, no fim, eles ganham sempre. Ou quase sempre... E aqui surge outra ironia: naquele que foi, na minha opinião, o melhor jogo da Alemanha... eles perderam! E deu-me particular prazer relembrar os rostos desiludidos e mesmo desesperados dos portugueses reflectidos, pela primeira vez, nas faces, geralmente, frias e indiferentes de Podolski, Ballack ou Schweinsteiger. E mérito ao capitão: que bem lutou pela vitória.

Ironia também, foi o facto de o "puto maravilha" que, entretanto, já foi promovido antecipadamente por muitos a "melhor jogador do mundo", nem sequer fazer parte da equipa ideal do Euro. De salientar, neste ponto, o merecido lugar ocupado pelos magníficos Pepe e Bosingwa.

Os portugueses perderam... mas um ganhou. Quem? O mesmo de sempre. Incontornável. Perspicaz. Único. "The special one". Mourinho apostou na selecção dos nossos "irmãos" ibéricos e provou, mais uma vez, que nunca aposta em falso e que, quando o faz, é para ganhar. Terá certamente muito sucesso no Inter.
Por fim, resta-me dizer que este Europeu deixou um sabor muito especial... viram-se grandes exibições: a Holanda, a Rússia, a Itália e até a surpreendente Turquia. No fim, e ao contrário do que acontecera no último europeu, consagraram-se os justos vencedores: aqueles que praticaram o melhor futebol, que não sofreram golos nos últimos jogos, aqueles que nos ofereceram o tão desejado espectáculo, com excelentes exibições individuais (de Xavi, Iniesta, Torres ou do herói Casillas) sem manifestações de egoísmo e sem esquecer que o grupo é o mais importante para alcançar a vitória. E aqui, muito provavelmente, a selecção portuguesa tem muito que aprender com eles.

publicado por Vânia Caldeira às 16:42

21
Jun 08

 

Nunca tive qualquer tipo de conflito com as palavras. Pelo contrário, venero-as em devoção extrema pela capacidade infinita que depositam nas minhas mãos. Por vezes, demasiadas vezes, somos levados pela arrogância de afirmar que as palavras são insuficientes para definir alguém, um momento ou uma emoção. Tentamos culpá-las de uma falta exclusivamente nossa. Falta de tempo, paciência, arte ou talento. Sim, porque, na verdade, acontece exactamente o oposto: quando escrevemos uma palavra ela excede-se a si mesmo, ao significado que lhe demos, ultrapassando a barreira do nosso universo para a esfera do leitor, que a poderá interpretar de diversas formas diferentes.

Tempo de voltar à ideia inicial: sempre tive uma óptima relação com as palavras, com as quais estabeleço um diálogo constante, algures, nos recônditos da minha mente. Porém, nem sempre elas saem com a espontaneidade com que deviam... sobretudo no campo delicado e sensível que elas acabam sempre por abordar com inigualável riqueza - o dos sentimentos. Aqui as palavras emergem, ideias e ideias sucedem-se, mas não fluem com facilidade até à estrutura laríngea e não é fácil deixá-las vibrar nas cordas vocais ou dançar nos músculos da língua.

Papel e caneta. Combinação perfeita, harmonia sem igual. Quando a voz é trémula, a vontade de falar hesitante, dêem-me um papel e uma caneta e o milagre acontece. Não, não é preciso esperar, não é preciso "inventar"... Como que por magia, a sinceridade chega-me à ponta dos dedos e surge no papel. Como uma verdade absoluta, como uma certeza que esteve sempre lá, à espera de ser revelada, sem dificuldades, medos ou hesitações. As emoções vêem a luz do dia e perduram no tempo.

Sim, também há vantagens neste processo da escrita. As palavras verbalizadas são, geralmente, mais imaturas, fugazes, frágeis e acabam por ser condenadas ao esquecimento, por essa ampulheta indiferente do tempo. A palavra escrita permanece... no tempo, na memória e vive através do papel. Deve ser por isso que sempre gostei de escrever: fazer perdurar os momentos felizes e as pessoas importantes, revivê-los e relembrá-los mais tarde; procurar aprender com os erros, expiá-los, e a toda a tristeza, no papel. Também deve ser por isso que nunca vivi o habitual dilema de quem escreve: o da "folha em branco". Escrever nunca foi uma obrigação ou um dever, mas sempre um prazer, uma necessidade intrínseca.

Entretanto, e enquanto reservo as palavras mais difíceis, mas também as mais sinceras, apenas ao papel, resta-me a esperança de que os meus amigos e todas as pessoas realmente importantes saibam o que representam na minha vida... e apenas o deduzam dos meus gestos, da minha preocupação com eles ou constante presença. Não esperem que o diga... Mas quem sabe? Talvez o vá escrevendo.

publicado por Vânia Caldeira às 14:45

28
Abr 08


Há coisas em que é difícil acreditar. Certas acções parecem surreais, certos acontecimentos ridículos e certos comportamentos são simplesmente inaceitáveis. Tudo isto se levarmos em conta que nos referimos a estudantes de Medicina, todos maiores de 18 anos e que, efectivamente, já deveriam ter algum juízo.
No seio da faculdade existe a mesquinhez, a injustificável competição à milésima, a inveja e a falsidade. Esta última irrita-me particularmente. É fácil sermos enganados com a ideia que criamos das pessoas... que, à primeira oportunidade, nos desiludem. E também existem aquelas em que simplesmente nunca depositámos nenhuma esperança. Essas certamente não desiludem, apenas provam que estávamos certos. No entanto, continuam a sorrir-nos largamente pela frente, a tentar estabelecer conversa. Enquanto isso, por trás dizem mal (o mais que conseguem), procuram arranjar problemas, irritar-nos à custa do planeamento de enormes teias de intrigas.
Porém, quando fora do seu contexto diário normal, quando as amarras se soltam... surgem quase magicamente todas as frustrações, todas as ideias e vontades reprimidas e vai-se formando um cocktail explosivo... O principal problema é que ele explode mesmo. Loucura, leviandade, irresponsabilidade, vandalismo e violência. Como é possível? Por momentos, a diversão parece proporcional ao nível de álcool e, sobretudo, à quantidade de estragos.
Mais do que revolta e indignação, estes comportamentos despoletam em mim uma tremenda vergonha. Vergonha de poder sequer ser confundida com esses outros que não se cansam de fazer porcaria. Vergonha de estar no mesmo grupo... E, o que é certo (ou quase...), é que tanto eles como eu seremos os futuros médicos do país... Enfim...
No meio de tudo isto o que é que faz com que valha a pena? O que é que fez com que as Olimpíadas da Medicina deste ano não tenham sido um fracasso?
Os que não se associam a estes movimentos de liberdade inconsequente. Os amigos certos, as pessoas ideais! Água a cair do tecto ou dolorosos escaldões? O que é isso ao pé das nossas toalhas de praia encharcadas, da caça à melga, da tentativa frustrada de tirar o verniz com vodka, das típicas "siestas", do vinagre no frigorífico e de tudo o resto?
A diversão sem maldade, a união, a certeza confirmada de que, pelo menos entre nós, tudo correria bem. Poucos, mas bons! Sempre juntos, em sintonia, em harmonia. Ora na casa de uns, ora na dos outros. A passear, a apanhar sol, a comer, a beber, a jogar às cartas, a jogar PES, a ouvir música ou simplesmente a ver passar o tempo... juntos.
Obrigada por fazerem com que valha sempre a pena! Sim, porque apesar de tudo o resto, mas sobretudo por tudo isto... para o ano haverão mais Olimpíadas.

publicado por Vânia Caldeira às 14:15

22
Abr 08


Nunca se sentira capaz de fazer nada sozinho. Por isso, olhava o austero prédio e hesitava. Perdia minutos e minutos naquela incerteza que o destruía, naquela insegurança castradora.
Os muitos anos de consumo de drogas tinham-lhe deixado marcas profundas, não no rosto - que, aliás, se poderia dizer muitíssimo "bem conservado" para o atentado continuado que fizera à sua própria saúde - mas na alma. À medida que a heroína ganhava terreno na sua vida, ele perdia-o, o chão fugia-lhe e ele tornava-se cada vez mais pequeno. Minúsculo, ridículo... perante a enormidade do seu vício.
Recordava, com desgosto, o maldito dia em que conhecera esse mundo oculto. Mundo inicialmente perfeito... uma nova experiência que partilhava com os "amigos", o prazer após cada dose, o sentimento de poder absoluto. Tudo não passava de uma brincadeira, apenas quando apetecesse, apenas quando ele quisesse. Não passaria muito tempo até que se aperceberia da falta de verdade dessa ideia. Nada dependia já dele. Perdera o controlo, ganhara a dependência.
Uma dependência física, sem dúvida. As ressacas eram dantescas idas ao Inferno, cujo único bilhete de regresso parecia ser uma nova dose. Às dores insuportáveis acumulava-se a angústia de simplesmente não ser capaz. Querer largar e não poder. Tentar e não conseguir.
Apesar de perceber como aquilo lhe fazia mal, como a dor excedia em muito qualquer prazer que o vício lhe pudesse conceder: ele simplesmente não era capaz.
Para dissimular a sua própria desilusão, mas também a alheia (a daqueles que mais o amavam), procurava convencer-se que essa incapacidade era linearmente fisiológica. Mas, no fundo, a verdade teimava em atormentá-lo. Sentia que não passava de um fraco, ao não conseguir aquilo que mais queria - largar o vício.
Anos e anos de tentativas, de investimentos por parte dos que o rodeavam, de apoio de todos, cocktails de fracassos e desilusões que terminavam sempre no mesmo: a recaída. Anos que o perseguiam e que o perseguiriam a vida toda, confrontavam-no agora ali, naquele momento, enquanto atravessava a passadeira e se aproximava da entrada do edifício.
Há 3 anos que deixara de consumir, tempo demais para si, demasiado pouco tempo para os outros, aqueles que tentavam confiar que desta vez seria definitivo. O que mais lhe custava era a sensação de ter perdido uma enorme fatia da sua vida, a melhor. E agora, apenas lhe restavam algumas migalhas que teria de aproveitar, após esta sua reaprendizagem da vida, um duro recomeço. Além disso, a droga deixara-lhe inúmeros receios e fragilidades. Era como se sem ela, não conseguisse fazer nada... não fosse capaz de pensar, de estar com ninguém, de dar o melhor de si mesmo.
Por isso, hesitava em frente ao elevador...
Lembrou-se então do verde dos olhos dela. O verde no qual se encontrara e a calma inabalável que eles lhe transmitiam, a certeza de que um mundo melhor era possível e estava para lá da porta daquele elevador. Ela era o significado que ele encontrara para a sua vida. Respirou fundo, guardou com carinho o belo rosto dela algures nos recônditos escondidos da memória, e prometeu a si mesmo que desta vez seria diferente: não iria desiludir mais ninguém, muito menos ela... que sempre confiara verdadeiramente nele.
Entrou no elevador de cabeça erguida, com a certeza de que a entrevista lhe correria muitíssimo bem e que o emprego seria seu. Agora acreditava nele e nas suas capacidades. Era mais homem, mais completo. E tudo isso lhe devia a ela e à força do seu amor. Esse, era sem dúvida, o melhor de todos os vícios.
publicado por Vânia Caldeira às 14:26

07
Abr 08


Cada coisa tem o seu cheiro característico, indelével aroma que a percorre, que a transforma e a torna nessa mesma coisa.
As casas têm cheiros. Não me refiro ao aroma de lavanda de determinada vela ou ao resultado da queima de incensos. Nem tão pouco me refiro aos cheiros a comida que preenchem uma cozinha ou ao perfume de determinado quarto. Um aroma que vai muito além disso e faz parte da própria casa. Noto isso na casa das pessoas que mais importantes são para mim. Há qualquer coisa de conhecido, que nos desperta a atenção, ao fim de muitos anos a frequentar essa casa.
Os livros também nos presenteiam com o seu próprio cheiro. Adoro aqueles livros com a herança dos anos traduzida nas folhas amareladas e no típico cheiro a "antigo".
É impressionante a forma como a nossa memória, esse mecanismo magnífico e que representa, no fundo, toda a nossa vida e a experiência que temos dela, consegue associar esses cheiros, esses aromas a essas casas, esses livros ou, até mesmo, a determinados acontecimentos ou pessoas. Sim, as pessoas também têm cheiros característicos. Sou muitíssimo sensível a esses aromas próprios de cada um e várias vezes já me aconteceu prever a chegada de alguém, pela precoce chegada desse aroma ao meu sentido olfactivo.
O teu aroma, o cheiro da tua pele... desperta-me todos os sentidos. Recorda-me o doce sabor da tua boca, o suave toque das tuas mãos, o agradável timbre da tua voz... Impele o meu olhar a querer perder-se na profundidade do teu. Porquê? Não sei. Apenas sei que és especial.
publicado por Vânia Caldeira às 10:21
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04
Abr 08


Mesmo à beira dos 21... Apenas algumas horas nos separam. E então? O que significa isso?
Há quem desvalorize o trágico e inevitável facto de que a cada aniversário ficamos um ano mais velhos. A mim assusta-me... Essa dimensão efémera do tempo que, no dia-a-dia acabo por esquecer, mas que se torna particularmente presente nesta altura.
Passou mais um ano. Passou depressa demais, aliás passa sempre... Parece que foge de nós e é sempre o mais rápido nessa disputa.
O que importa então realmente? A forma como o aproveitamos. Os 20 anos foram uma idade particularmente agradável. Com muitas surpresas verdadeiramente boas e, sobretudo, com a presença de grandes amigos.
É estranho mas, nesta altura da minha vida, começo a sentir algumas pessoas como certas, a saber que elas simplesmente estarão sempre ali. Revestida de uma camada inexplicável, essa certeza é o maior prazer que a amizade nos pode dar. Saber que quando mais precisarmos essas pessoas especiais simplesmente estarão sempre lá. E que embora nos esqueçamos demasiadas vezes do valor que elas representam na nossa vida... são elas que ajudam a manter os alicerces da nossa felicidade e o sentido da nossa existência.
Por isso, e porque não digo o quanto vos adoro tantas vezes como gostaria, muito obrigada a todos vocês... meus grandes amigos!
Obrigada por serem a minha garantia de que os 21 serão ainda melhores!
publicado por Vânia Caldeira às 11:42

29
Fev 08

 

Há dias em que simplesmente estou feliz. Sim, é verdade, algures no meu mundo há espaços para dias mágicos de felicidade. Alguma causa precipitadora de tal felicidade diagnosticada? Aparentemente não. Mas os sintomas são demasiado óbvios.

Um brilho nos olhos, o sorriso constante e sincero, a boa-disposição de cada movimento, ... Hoje apetece-me apenas dizer sim a tudo, dizer sim aos outros, dizer sim, um enorme sim, a mim mesma.

Hoje quero depositar toda a esperança no que posso, nas minhas capacidades ilimitadas, nas minhas forças criadoras, hoje acredito no mundo e na sua fertilidade.

Talvez porque a festa desta quarta me deixou alegre. Não é preciso estar muita gente (e não estava), basta que estejam simplesmente as pessoas certas.

Hoje acordei e percebi como me posso considerar afortunada e essa é, deveras, a melhor sensação do mundo porque me torna mais poderosa, mais segura de mim mesma, mais confiante, mais genuína e mais entregue a cada pequena coisa que faço.

Seria bom que todos os dias fossem como este. Seria bom que a cada dia eu percebesse a enorme sorte que tenho, como o destino foi generoso comigo: os pais fantásticos que me deu, os verdadeiros amigos com que me brindou e a maravilhosa vida que me deu oportunidade de viver e construir a cada passo. Hoje estou feliz. Mas se todos os dias fossem como o de hoje, provavelmente nunca poderia realmente dar valor a um dia tão magnífico. No fundo, o dia de hoje não seria tão especial. Por isso, ainda bem que existem coisas boas e coisas más, surpresas e decepções, gestos que nos fazem sorrir e atitudes que nos fazem chorar... Ainda bem, pois só assim compreendemos o verdadeiro valor dessa quimera que é a felicidade!

publicado por Vânia Caldeira às 21:01
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09
Fev 08

 

Não era tão mais fácil se criassem um programa informático com uma enorme base de dados, no qual simplesmente nos identificávamos e ele procedia à pesquisa da pessoa certa para nós. Uma busca de apenas alguns minutos e com uma lista reduzida de resultados. Penso em quantas pessoas "certas" haverão para mim. Não será certamente apenas uma, a não ser que se ceda à redutora e desanimadora teoria das almas-gémeas. Mas nesse caso, bastante mais condenado ao fracasso, onde é que irei encontrar a outra metade da minha laranja? E, sobretudo, como? Pelo país e mundo fora existirão inúmeras pessoas excepcionais que nunca teremos a oportunidade de conhecer, apesar do enorme contributo que a Internet tem dado nesse sentido. Mas só me resta reafirmar: era tão mais fácil com uma pesquisa informática no dito sistema. Com sorte não só nos mostrava os resultados possíveis e o grau de compatibilidade dos possíveis candidatos a princípe de uma história daquelas que terminam com o lendário "e viveram felizes para sempre", como ainda nos dava informações relevantes - como a localização exacta do dito indivíduo e como o procurar e encontrar...

Em vez disso, procuramos toda a vida e, sobretudo, fazemos escolhas... e são essas escolhas que me maçam e atormentam. Como sabemos se fazemos a escolha certa? Podemos sempre achar que pouco importa, que se não acertarmos à primeira, restam-nos muitas outras hipóteses. E claro que isso é absolutamente verdade!

O problema é que, embora nem sempre nos apercebamos disso, as nossas escolhas determinam constantemente a nossa vida, as pessoas que conhecemos, a vida que temos a oportunidade de levar. Escolher é muito mais do que assinalar um boletim de voto ou um exame de cruzes, escolhe ré, neste caso, tomar parte activa na construção da nossa vida, traçar o nosso próprio rumo, decidir, apenas parcialmente, onde é que esse caminho nos irá levar.

Era tão mais fácil usar o tal sistema informático... Até lá, enquanto aguardo mirabolosa criação, procuro reflectir bem as minhas escolhas.

E, entretanto, enquanto por aqui divago... a outra metade da minha laranja deambula por aí algures, em busca da sua alma gémea que, provavelmente, nunca encontrará...

publicado por Vânia Caldeira às 13:53

07
Fev 08

 

Estou exausta mas, simultaneamente, bem-disposta. Chegou finalmente ao fim esta dolorosa época de exames que parecia interminável. Não houve Carnaval e não sei o significado da palavra férias...

Quando saí da faculdade hoje já passava das 22h30. Saí estafada, com um sério débito acumulado de horas de sono, toda dorida das horas de espera e, sobretudo, dos nervos que foram crescendo ao longo do dia e bloqueando o meu raciocínio... mas saí aliviada. Com a sensação de dever cumprido, contentíssima com a minha prestação na dita oral e com a nota final.

Apenas lamento que as coisas não tenham corrido tão bem a alguns amigos meus, mas enfim...

Agora posso finalmente ir de férias. Como sempre, e porque vamos exercer a profissão mais nobre do mundo (como uma amiga minha costuma dizer) a palavra "férias" não passa de um lindíssimo eufemismo que gostamos de usar para tornar o nosso mundo mais bonito... afinal, segunda-feira voltamos às aulas.

Agora quero fazer tudo aquilo que não fiz nas últimas semanas devido ao meu período de hibernação crónica que quase me levou à loucura. Deixo definitivamente para trás as circunvoluções, o sistema límbico e o circuito de papez, o tálamo, as meninges, a medula, os nervos e os plexos... chega!

Quero ir ao cinema, sair à noite para beber café, aproveitar os fins de semana, rever os amigos (temporariamente abandonados), alugar filmes, ler todos os livros que conseguir, ver séries até tarde, passear com o meu mano, borga, muita borga...

 Quero esquecer durante umas semanas que estou em Medicina e tudo o que isso implica... Quero apenas divertir-me, sem pensar em mais nada...

publicado por Vânia Caldeira às 01:00

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