E passou mais uma Véspera de Natal. O ritual do costume: a típica e abundante ceia de Natal, seguida de um filme de Natal, para o tempo passar mais depressa. Até que faltam apenas alguns minutos para a meia-noite. Não sou muito curiosa relativamente às prendas. Não ando desesperada para descobrir o que escondem os embrulhos... pelo contrário, prefiro não saber. A mística da Noite de Natal para mim passa pelo "saborear" de cada descoberta, por cada surpresa.
Hoje em dia, o meu sentimento acerca dos presentes supera todo e qualquer materialismo. Vai muito além disso. São importantes enquanto prova de que os nossos familiares e amigos se lembram de nós. E é curioso descobrir o que cada um meticulosamente nos destinou. A sua escolha mostra que nos conhecem, que sabem as nossas preferências, o que mais gostamos... Comigo é raro não acertarem.
E, este ano, a história repetiu-se. Todos os presentes se revelaram boas surpresas - livros ("O Rio das Flores", "A Filha do Capitão" e "A Medicina segundo o Dr.House" revelaram-se óptimas surpresas), perfumes e sabonetes, umas giríssimas pantufas com uns cãezinhos, adereços (uma mala, duas echarpes, um colar), agendas, chocolates, uma mantinha quentinha (ideal para este frio horrível), etc...
Mas os melhores presentes são aqueles que não desembrulhei ontem. Aqueles que o Pai Natal deixou no sapatinho para que eu os abra e deles desfrute ao longo de todo o ano: amor, felicidade, saúde, amizade, sonhos concretizados e sucesso! São essas as melhores prendas que a vida me pode reservar!
Votos sinceros de um Feliz Natal, recheado de boas surpresas no sapatinho, muitas alegrias e muitos doces...
Um enorme beijinho de Boas Festas a todos os meus amigos, colegas e visitantes deste blog!
Por isso mesmo, o Natal deve ser tempo de luz. É importante que a magia desta quadra faça entrar nas nossas vidas a luz da alegria, do amor, da amizade, do sucesso e da prosperidade.
Mas o Natal, rico de simbolismo, é muito mais do que este conceito antigo. Como o concebemos actualmente parece impossível de dissociar de certos símbolos:
- a árvore de Natal representa a vida renovada e é símbolo supremo de esperança; o verde das folhas simboliza o esplendor da vida com toda a sua força e permanece mesmo no rigor do Inverno, até nos países em que neva; a tradição surgiu na Alemanha no século XVI em que as famílias enfeitavam as suas árvores com papel colorido, frutas e doces; no século XIX o hábito difundiu-se por todo o mundo
- os presentes representam as ofertas dos Reis Magos ao Menino e, além disso, um ideal de partilha e de afecto mútuo
- as velas simbolizam a luz que vence as trevas, mas também a boa vontade, a receptividade e hospitalidade, já que as velas se consomem completamente para gerar luz (são símbolo de doação, de entrega a favor da vida)
- a estrela no topo da árvore é símbolo de orientação, de um caminho a seguir, um rumo a tomar para alcançar a plenitude da vida e a concretização dos nossos sonhos
- os postais de Natal surgiram em 1843 pela mão de John Horsley com a finalidade de felicitar os familiares de uma forma simbólica e enquadrada na época natalícia
- o presépio reproduz o nascimento de Jesus; apela ao valor da família e da união; o primeiro presépio foi criado por São Francisco de Assis em 1223, mas este hábito rapidamente assumiu grandes proporções em todas as classes sociais, desde a aristocracia até ao povo
- as bolas coloridas da árvore de natal são o fruto da árvore, ou seja, o fruto da vida e da esperança, representam tudo aquilo que colhemos no nosso dia-a-dia, o resultado do que fazemos e do que somos
- os anjos são o símbolo do transcendente na nossa vida, do divino, mas também dos nossos sonhos e ideais
Depois destas curiosidades, há uma mensagem que quero deixar. Mais do que o que as coisas possam representar originalmente (e por muito que seja interessante saber disso), o importante é aquilo que a quadra representa para cada um de nós, o valor que damos a cada coisa, o carinho com que decoramos a casa e os nossos próprios motivos para o fazer, os convidados que recebemos, as prendas que de forma deleitada escolhemos para cada amigo, o valor que damos à reunião da família...
É esse o verdadeiro espírito de Natal. Deixarmos voar o que temos de melhor...
A Internet facilita indubitavelmente muitas coisas: facilita as rápidas comunicações, faz-nos estar sempre mais perto daqueles de quem gostamos, estarmos mais presentes nas vidas dos outros, informarmo-nos rapidamente acerca de qualquer dúvida, põe-nos em contacto directo com o mundo...
No entanto, também tira a magia a alguns prazeres.
Por um lado, torna tudo mais impessoal. As pessoas perdem a coragem de dizer olhos nos olhos o que sentem, preferindo um teclado e um ecrã como barreira filtradora de medos, vergonhas, angústias e incertezas.
Na Internet tudo é mais fácil. É mais fácil dizer o que se pensa mas não se consegue dizer frente a frente; e, sobretudo, é mais fácil dizer o que não se pensa e só se diz por jeito ou simpatia. A mentira é vulgar, a ilusão uma constante.
Os e-mails estão longe de ter a magia das cartas. Primeiro, não há comparação entre a sensação de ouvir o sinal de chegada de correio electrónico e o abrir da caixa de correio, o acto de pegar na correspondência, verificar o remetente e abri-la na expectativa do que se poderá encontrar no seu interior. A maior intimidade conferida por uma caligrafia que não os caracteres do teclado é outro pormenor que confere vida a cada carta, individualidade a cada mensagem.
É por isso que nesta quadra tão festiva, e para mim tão especial, não me privo deste pequeno luxo da correspondência. Todo o processo é demorado, nem sempre há muito tempo, mas só a dedicação com que me entrego e o gozo que me dá... compensa. Começo por comprar os cerca de trinta postais de Natal, depois escolho um poema ou uma frase de acordo com a época natalícia e, por fim, personalizo cada mensagem. Nunca me deixo cair na monotonia de escrever uma mensagem padrão. Cada postal tem uma mensagem dedicada a cada amigo, aos momentos que vivemos juntos, aos segredos que partilhamos, ao afecto que nos une...
Além de escrevê-los, é também muito agradável receber os postais. Todos diferentes, todos simbolizando uma amizade especial, lembrando lugares, recordando outros tempos, muitas vivências... Traduzindo afectos, esses laços invisíveis que nos unem inexoravelmente uns aos outros e nos apertam de um calor humano que, no entanto, parece obra dos deuses. Transmitindo desejos, carregados de verdade e autenticidade.
Adoro esta época do ano. Porque é época de recordar, visitar, presentear amigos que o tempo, ou a falta dele, obriga a (quase) esquecer ao longo do resto do ano. No Natal não há desculpas, nem barreiras... a amizade fala sempre mais alto!
Luzes, enfeites, embrulhos, músicas de Natal. Aí está outra vez esta quadra festiva. Como o tempo passa depressa: olho-me ao espelho, buscando diferenças desde o último Natal... Afinal o que fiz eu ao meu Natal?
Acho que o tenho transformado, ao longo do tempo, com novos ideais e um novo olhar, mais forte e mais profundo...
Olhos de quem vê além do simpático velhote de barbas brancas e indumentária vermelha... de quem vê nele a personificação da esperança. É acreditar que um mundo novo é possível e que os nossos sonhos nos podem chegar pela chaminé.
É ver no verde pinheiro de Natal mais do que um bonito artefacto decorativo. É ver nas suas dimensões a possibilidade de tocar o céu como um desafio de sermos sempre melhores e a promessa da realização pessoal.
É ver no presépio mais do que um ritual antiquado ou "beato". É ver a necessidade de sentir a presença de uma entidade superior nas nossas vidas, é ser-se inspirado pela humildade e união dqaquela família.
Tanta coisa pedi ao Pai Natal este ano... Sei que não lhe cabe tudo no saco e que muitas "prendas" ficarão pelo caminho. Mas não deixei de fazer a minha lista nem de acreditar num certo Pai Natal porque enquanto viver haverá sempre uma renovada esperança de cada dia beber um quente e delicioso café na maravilhosa chávena da vida.
"Não é a mesma coisa (...) morrer ou ver a luz do dia.
Uma coisa é nada; na outra, reside a esperança."
Eurípides, in As Troianas
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira