Ser mulher.
Gosto de pensar que, hoje em dia, o orgulho de ser mulher nos recorda, a todas, as imensas lutas e consequentes vitórias que outras, em tempos distantes, travaram e conquistaram com a força do seu pensamento e a virtude das suas ideias. Batalha sem tempo, essa. A da igualdade, a da dignidade e a do respeito. Apenas por um lugar na sociedade, longe do velho papel de mãe e esposa, cumprido de forma sacrificada. Em busca de mais do que isso. Porque merecemos mais. Porque valemos muito mais.
Um lugar ao lado dos homens, com direitos e reconhecimentos semelhantes. Porque somos iguais. E, muitas vezes, melhores. Mais capazes, mais aptas, mais responsáveis, mais dedicadas. Porque estamos habituadas a sentirmo-nos postas à prova e a superarmos todos os testes.
E, no entanto, em dias como este, fico profundamente triste. Porque sinto que tudo não passa de uma fachada. A sociedade não mudou tanto quanto se esperava. Continua igual... Os homens não mudaram (a maioria, pelo menos, não). Um estudo veio hoje revelar que um em cada sete britânicos acha normal bater na namorada. Os números da violência no namoro não param de crescer e os actos machistas repetem-se numa sociedade que se diz jovem, moderna e civilizada. O assédio à mulher no trabalho é frequente, a escolha de homens para os cargos mais altos também. Os homens não mudaram: as palavras talvez tenham mudado, se tenham suavizado e preenchido de falsas cautelas ("porque fica bem, porque elas gostam de ouvir, porque é bonito"), mas os seus gestos e as suas ideias são, bem no fundo, as mesmas.
Mais do que isto, preocupa-me que muitas mulheres não tenham mudado. Umas porque a idade não lhes dá espaço à mudança. E outras... essas são as que não compreendo. Têm elas próprias profundas raizes de uma sociedade machista: onde se habituaram a servir os homens e a criticar as mulheres que o não fazem. Onde um homem que traia a sua companheira é um "mulherengo" (expressão acompanhada de um leve sorriso) e mulher que faça o mesmo não passa de uma "puta" (e perdoem-me a expressão). Onde não cultivam o respeito por si próprias, a ambição de chegar sozinhas a lado algum, a vontade de vencer e provar ao mundo o seu valor. Que se limitam a acreditar naquilo que eles lhes dizem, que se circunscrevem ao "nada" com que eles as rotulam. Cujos objectivos de vida são casar e ser esposas dedicadas.
E, agora, pergunto: haverá assim tanta diferença entre estas mulheres e as de há uns séculos atrás? Ou aquelas que se escondem numa burca nos países árabes? Provavelmente, a principal diferença é que as de hoje perderam a força de mudar as coisas. E se acomodam. E como esta realidade pode doer... É tempo de sermos verdadeiramente iguais. Não queremos que nos favoreçam, não precisamos! Queremos o simples direito de sermos iguais, no que fazemos bem e no que fazemos mal. Sem excepções. Será demais sonhar com isso?