Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

26
Nov 06

 

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte   violar-nos   tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas   portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny

Homenagem a um grande poeta e pintor que hoje nos deixou... Os seus poemas, esses, torná-lo-ão sempre inesquecível e memorável.

publicado por Vânia Caldeira às 21:39

 

Fecho os olhos por instantes.

Abro os olhos novamente.

Neste abrir e fechar de olhos

já todo o mundo é diferente.

Já outro ar me rodeia;

outros lábios o respiram;

outros aléns se tingiram

de outro Sol que os incendeia.

Outras árvores se floriram;

outro vento as despenteia;

outras ondas invadiram

outros recantos de areia.

Momento, tempo esgotado,

fluidez sem transparência.

Presença, espectro de ausência,

cadáver desenterrado.

Combustão perene e fria.

Corpo que a arder arrefece.

Incandescência sombria.

Tudo é foi. Nada acontece.

 

Porque no dia 24 de Novembro se celebraram 100 anos desde o nascimento de um dos meus indubitáveis poetas favoritos, de nome: Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, que não foi um descobridor da Índia, mas foi, certamente, um dos descobridores da língua portuguesa, uns dos que melhor navegou nos mares da poesia e da imaginação. A ele este poema... porque tudo é foi.

publicado por Vânia Caldeira às 21:03

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