Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

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Dez 07

 

 Olhinhos pequenos e brilhando de ansiedade. Olhos pequenos demais para poderem captar tudo o que querem, tudo o que os rodeia. Expectantes entram na sala carregando, com orgulho, o seu boneco.

A Faculdade de Medicina de Lisboa realiza todos os anos esta iniciativa, durante a qual várias escolas levam as crianças para algumas brincadeiras em que estudantes encarnam o papel de médicos para tratar dos diversos bonecos das crianças. O principal objectivo era fazê-los perder o medo destes senhores de bata branca.

 

A experiência foi simplesmente única e inesquecível. Vê-los entrar a medo, inseguros, introvertidos, envergonhados e vê-los sair exibindo sorrisos capazes de transformar o mundo.

Aos poucos iam ganhando confiança. E era vê-los chegar ao consultório com o seu brinquedo. Tratei todo o tipo de doentes! Desde Noddy's, Homens-Aranha, Barbie's, Action Men's, o Batman, Nenucos, peluches, ... Todo o mundo do fantástico desfilou pelo meu consultório imaginário.

O mais mágico de tudo foram as próprias crianças, o penetrar no seu mundo de ilusões, na sua ingenuidade natural associada a uma atenção constante.

A sua imaginação ao apresentar as queixas dos seus bonecos: dores de cabeça, de ouvidos, de garganta, de barriga, pés partidos, arranhões, vómitos, diarreias, ...

 

" - Então e porque é que o Homem Aranha teve de vir ao médico? O que é que lhe aconteceu?

- Ele atirou-se de um prédio e partiu as pernas."

 

A forma consciente e cuidada com que recebiam todas as receitas médicas, os exames a realizar nas secções subsequentes, as recomendações, ...

A facilidade com que num instante eu os punha a contar-me histórias, a falar da escola, do clube de futebol ou do quanto gostam (ou não) dos médicos. Desfolhei-os, a todos e a cada um, qual pequenos livros infantis, com histórias de encantar, crenças ingénuas, sentimentos autênticos.

Algumas meninas, com a mentalidade e a responsabilidade que lhes é tão própria, eram verdadeiras mães das suas Barbies ou dos seus Nenucos e comprometiam-se a tomar todas as precauções.

 

"- Então do que é que a Barbie se queixa?

- Não se está mesmo a ver??? Falta-lhe um braço."

(Sim, é verdade, eu devia ter reparado que faltava um braço à boneca!)

 

 

Ou ainda a constatação de que no mundo das crianças tudo é possível, basta crer, basta acreditar com muita força. Quando lhes colocava o estetoscópio para perguntar se ouviam o bater do coração dos seus bonecos... eram vê-los acenar com uma certeza absoluta e saber que, nas suas pequeninas cabeças, imaginavam cada batida, tinham a certeza da vida que emanava de cada brinquedo.

Foi uma manhã fantástica!

 

E é curioso como notei alguns pontos em comum. Também nós, tal como os pequenos, estávamos expectantes, ansiosos, divertidos. Eles erguem com orgulho e sentido de responsabilidade o seu boneco, assumindo o papel de verdadeiros pais. Nós, com orgulho semelhante, exibimos a bata e o estetoscópio, assumindo o papel de verdadeiros médicos.

 

Sempre o indelével curso da vida que nos leva a atravessar várias fases e, apesar de, em cada uma delas, nos acharmos diferentes, somos sempre nós mesmos. Os mesmos sorrisos, as mesmas esperanças, os mesmos ideais, as mesmas incertezas, os mesmos medos, apenas disfarçados pela discreta passagem do tempo.

publicado por Vânia Caldeira às 19:55

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