Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

12
Ago 08

 

Não gosto de aeroportos! Apesar do aspecto modernizado e fresco do aeroporto da Portela, sente-se o ar pesado e trágico, bagagem incontornável de qualquer aeroporto.

Quando há alguns anos viajei para Londres, entre outras coisas, recordo o horror com que fiquei dos aeroportos, em nada relacionado com os aviões propriamente ditos (por estranho que possa parecer). Só nessa semana voei em quatro aviões (fizemos escala por terras de "nuestros hermanos") e não me restou da repetida experiência qualquer tipo de aversão, a essas encantadoras máquinas, filhas da ideia de Ícaro. Pelo contrário, adorei andar de avião e pretendo repetir muitas vezes a confortável experiência.

E mais uma vez o problema inicial: os aeroportos. Lembro-me de ter odiado o check-in, com toda aquela burocracia, o necessário tempo de antecedência, e a despedida dos meus pais. Mas o regresso foi particularmente penoso: depois de uma semana fora de casa, demasiado longe para ter o consolo de que se algo corresse mal os meus pais "viriam a correr", com as saudades a apertar, todo o cansaço inerente aos inúmeros passeios para conhecer a belíssima cidade... não aguentava mais a longa espera (pareceu uma eternidade) para poder embarcar. E nova escala em Espanha. E só depois o ansiado Portugal. Nunca tão desejado como nessa altura...

Hoje, mais uma vez, constato como não gosto de aeroportos. Olho em meu redor e predomina a nostalgia antecipada de uma palavra, aquela palavra, que só tem real expressão na maravilhosa língua portuguesa: a saudade.

Tantas pessoas diferentes, pretos e brancos, adultos e crianças, ricos e pobres, homens e mulheres... e um mesmo olhar triste de quem não quer partir. Nos cafés, os amigos e familiares tecem sem jeito as últimas conversas, a tentar esquecer a proximidade do adeus impiedoso, mas sempre em vão. Os namorados apertam-se tentando apreender um último aroma, guardar junto a si o calor da pele do outro, os seus olhares penetram de tal forma um no outro que se isolam, se fecham num mundo só seu... dão os últimos beijos, entre sorrisos tristes e lágrimas incontidas. Na zona das partidas, o ambiente tetricamente fúnebre: esgotaram-se as palavras, reduzidas ao vazio de um silêncio, dominadas por um choro compulsivo e inútil.

Atenta a tudo isto, despeço-me do meu pai, oiço a minha mãe e o meu irmão chorarem desalmadamente, embora lutando contra esse impulso. Aos poucos, vejo-o desaparecer na porta de embarque. Procura ostentar um sorriso de confiança que nos diz "vai tudo correr bem, em breve estou de volta", mas que esconde os mesmos receios e a mesma antecipada saudade. E de novo o silêncio. E o choro da minha mãe (disfarçado, é certo). Não choro, não me apetece, não faz sentido, não gosto. Não gosto de me expôr e muito menos de expôr qualquer fragilidade.

Na mesma porta que engoliu o meu pai, outros vão, outros esboçam sorrisos aflitos, outros choram... Inúmeras pessoas se abraçam, inúmeros homens, mulheres e crianças choram, indiferentes a todos os outros, que vão e vêm, alheios a todo o sofrimento que os envolve e centrados apenas no seu micro-cosmos, nas suas memórias, na sua saudade, na sua dor... Depois, tudo volta ao normal. Nada fez sentido. Ninguém mais deu por nada.

No fim, resta a angústia das muitas palavras que ficaram por dizer, a saudade dos dias felizes, a incerteza e o medo. Resta a distância a separar o que a saudade quer unir.

Detesto aeroportos!

publicado por Vânia Caldeira às 22:24

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