Gosto de animais de estimação. Detesto peixes. Não há bicho mais estúpido... Talvez eu esteja a apelidar de estupidez o que é, na verdade, pura indiferença condenada da espécie.
Não sei até onde se estendem as capacidades dos animais, nem me interessa que insistam em classificá-los de irracionais... Não quero saber. O que eu sei é que o meu gato ou o meu cão me compreendem, mesmo que de uma forma muito ténue. Não espero que ele perceba que detesto a irresponsabilidade da minha professora de Neuroanatomia. Mas sei que ele sente que estou chateada, que o dia não me correu bem ou que estou triste. Ele compreende quando preciso que ele me mime, me lamba a mão com todo o carinho do mundo, ladre com a meiguice tão característica ou simplesmente esteja lá para mim.
O peixe não. Aquela coisa escamosa e com barbatanas passeia-se no cubículo a que está confinado com o mesmo olhar inexpressivo e ausente de todos os dias. Indiferente à vida dos que o rodeiam, indiferente a qualquer gesto de carinho... Estou sempre a implicar com o meu mano por ele ter querido um exemplar daqueles.
Noutro dia cheguei a casa e o meu irmão estava triste porque o peixe estava morto. Lancei um olhar indiferente ao aquário e apercebi-me de que, apesar de completamente de lado e à superfície, o bicho ainda não estava morto... Mas também não devia faltar muito.
Recordei-me de algo que tinha lido recentemente sobre uma história semelhante e hesitei... Até que ponto me apetecia realmente fazer algo por aquela coisa?
No dia antes tinha chuvido e, como tal, era provável que a água da torneira que lhe colocaram no aquário tivesse um excesso de minerais, insuportável para o peixe. Troquei-lhe a água por água da garrafa e, de forma impressionante, passado poucos minutos o peixe recuperara a sua estabilidade na água e uma vivacidade e energia irreconhecíveis.
Parecia feliz por ter sido salvo. Pela primeira vez parecia ter percebido o pouco que fosse...
Agora, e por muito que me custe admiti-lo, o meu olhar teima em fixar-se no aquário várias vezes ao dia, como que para assegurar que está tudo bem.
O peixinho é, agora, mais do que um bicho estúpido. Ele representa a esperança e a fé que depositamos nas coisas. E a prova de que o mais imprevisível pode mesmo acontecer!