Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

15
Nov 07

 

Interessante a atitude do Bastonário da Ordem dos Médicos ao anunciar que não irá alterar o código deontológico, mesmo após a nova legislação referente à prática do aborto.

Em causa está o artigo 47º que aponta o aborto como uma "falha grave". Este ponto nem vou discutir. Basta ler posts anteriores para perceber a minha clara opinião: sou contra o aborto, não o faria em nenhuma das situações (nem enquanto paciente, nem enquanto futura médica).

Independentemente dos meus princípios e opiniões, a nova lei tem sido bastante eficiente: afinal, os abortos têm-se tornado uma prática diária. Missão cumprida para os que votaram "sim". Uns poderão agora afirmar-se mais felizes porque finalmente a mulher tem a liberdade de escolher, outros porque acham que desta forma se está a abolir muita miséria...

Eu fico triste: porque acredito que estamos a desperdiçar (para não usar o termo "matar", ferindo susceptibilidades) vidas humanas.

Voltando à questão da ética: gostei particularmente quando Pedro Nunes (o bastonário) disse que "a independência, autonomia e liberdade dos médicos não são negociáveis". Embora pareça cada vez menos inconcebível, no nosso mundo, restar alguma coisa que não esteja à venda, gostaria de acreditar que pelo menos a ética não é negociável.

Gostaria de poder acreditar que, no mundo em que espero entrar daqui a uns anos, um mundo que aos poucos vou começando a tocar, ainda existem valores primordiais, que não se regem por interesses alheios, por cores partidárias, por chantagens ou subornos; mas apenas pela vontade de salvar ou melhorar as vidas humanas.

A questão agora é apenas uma: quando é que vou acordar deste sonho?

Quanto mais tarde, melhor...

publicado por Vânia Caldeira às 19:08

09
Fev 07

A poucas horas do final da campanha já quase tudo foi dito, por vezes disseram-se mesmo coisas excessivas, coisas impróprias, coisas... ditas só por dizer.

Parece que o sim tem potencialidades para ganhar... sinceramente, espero que não passem de estatísticas por apurar.

Primeiro que tudo seria bom que os portugueses, no domingo, se decidissem efectivamente a sair de casa. O referendo, enquanto processo legal, é a nossa oportunidade de dizermos o que achamos do estado das coisas, é a nossa oportunidade de mandar um pouco, de mandar no nosso pedaço de mundo. Ao abstermo-nos vamos aumentar a falta de credibilidade do mesmo e pô-lo em causa. É importante que pensemos no acto de votar, como um direito e como um dever.

Depois... cada um terá a sua opinião. E eu tenho a minha. Tenho constatado entre amigos e colegas que votar sim está na moda. Hão-de haver aqueles que acham que é sinal de modernidade, há mesmo quem se atreva a afirmar que o sim é a ponte para que Portugal possa sair da Idade Média em que se instalou.

Além de não ser nada influenciada pelas opiniões alheias e muito menos pelas correntes ou pela moda, não concordo com nada do que tem sido dito... No Sim, não vejo a resolução do problema que todos tentam anunciar, mas a fuga ao mesmo problema. E aqui, apesar de demasiado vulgar, sem dúvida que a expressão tem aplicação: "se não os podes vencer, junta-te a eles." Logo, um dos grandes argumentos do Sim (e eu até compreendo que não é fácil fazer campanha pelo sim, os argumentos escasseiam quando se atenta contra uma vida), tem sido que o não propõe que as coisas permaneçam como estão e o sim a mudança. Ora, isto é, perante a incapacidade do estado português de controlar e impedir os abortos clandestinos, legalizam-se os mesmos, tornando tudo mais fácil, sobretudo para o próprio governo que, assim, já não pode ser acusado de incompetência. Porque não legalizar também as drogas? Já que o governo não controla o tráfico... (ou vão dizer-me que só na questão do aborto é que continuam a praticar-se ilegalidades?)

Por outro lado, o Sim também se tem refugiado numa imagem marcante (ou nem por isso): mãos femininas atrás das duras grades. Nos últimos 30 anos não houve uma única mulher presa por ter cometido um aborto ilegal. Ora, mais uma vez, esse argumento também não me comove. Temos de proteger aqueles que não têm voz ainda, os mais fracos, as únicas vítimas desta situação.

Mas o auge das opiniões pró-escolha, foi o comentário de Lídia Jorge quando se referiu ao ser humano até às 10 semanas, como "essa coisa humana". Como escritora, em primeira instância, não foi certamente feliz na escolha das palavras, desonrando as letras com a sua ignorância e insensibilidade. Diz que vota pela modernidade, defendendo-se com os argumentos mais medievais que já ouvi.... Enfim...

 Oito anos depois do primeiro referendo, há uma generalização crescente da facilidade com que as pessoas têm acesso à informação. O acesso a contraceptivos tem sido facilitado. A protecção deve ser a palavra de ordem... o aborto deve ser uma excepção e não banalizado ao ponto de se, "por opção da mulher" (e é isso que diz a pergunta) até às 10 semanas, pode ser considerado um cómodo contraceptivo.

Aterroriza-me a banalização do aborto... Aterroriza-me a opinião de médicos a favor da escolha, quando essa escolha compromete uma vida, quando essa escolha é resultado de uma mera "opção" egoísta da mulher. E eu sou mulher... Defendo que a mulher manda sempre no seu corpo, mas neste caso, não se trata apenas do seu corpo... mas de uma criança que vai ser gerada. E por mais que tentem fugir à questão, tentem evitar ficar sem resposta perante perguntas difíceis, não nos podemos esquecer que o milagre da vida começa no momento da concepção. Nesse momento há todo um padrão genético que é criado: a cor dos olhos, do cabelo, certos traços físicos e mesmo psicológicos, estão ali, naquela maravilhosa mistura genética" . Às 10 semanas o coração já bate... Como é que um médico tem coragem de dizer que é a favor da escolha e contra a vida? ...

E depois restam as questões éticas... Agora, apenas por opção da mulher, pode fazer-se actuar uma "selecção não natural" e podem passar a abortar-se crianças com pequenos problemas facilmente resolvidos depois do nascimento ou por vezes mesmo durante a gestação.

E ainda outra questão não esclarecida... relativa, na minha opinião, a um dos públicos alvo: as jovens grávidas, menores de idade? Quem decide. Segundo a coerência dos argumentos aquela referida "opção da mulher" deveria ser delas. O corpo é delas... Mas, no entanto, são menores de idade, é suposto necessitarem de autorização dos pais. Isto só prova que os problemas continuam a não ser resolvidos, apenas deixados e acumulados para trás. Muitas das vezes, as mulheres decidem fazer aborto, não por "opção sua" propriamente dita, mas coagidas por familiares ou pelo respectivo pai da criança. Estas jovens continuam a não ter opção... e a deixar que os outros decidam por si.

Mais não digo... Se o sim ganhar, e tenho-me estado a tentar (infrutiferamente) preparar para essa situação, tudo vai mudar. Para melhor? Certamente não! Desacreditem-se aqueles que afirmam que o número de abortos vai diminuir, porque não vai. Aumenta, obviamente (e é esse o objectivo do sim) o número de abortos legais, agora com uma condição única: "até às 10 semanas por opção da mulher". Eventuais mulheres que poderiam ser dissuadidas pelo facto de ser ilegal ou ser incomum, com a legalização e consequente banalização do mesmo, isto representa um incentivo que poderá influenciar a sua decisão. Além disso, o sim não é a solução dos problemas. Não vão deixar de existir abortos ilegais... Nem sempre as mulheres têm tempo para realizar o aborto até às 10 semanas...

O primeiro-ministro repugna-me... Nunca há fundos, nunca há meios, para nada, nem mesmo para a Saúde, uma das áreas que deveria ser prioritária do governo. Mas para comparticipar abortos haverá... enfim...

Seria bom que as pessoas se consciencializassem da importância de uma simples palavra de três letras no referendo de domingo... Um não pode representar mais uma pessoa que vamos conhecer um dias nas nossas vidas, o sim é certamente uma condenação à morte para muitas crianças...

Se no domingo vencer o sim, é a sociedade que perde. Perde identidade, perde modernidade, perde valores, perde ... só tem a perder. Se o sim vencer, olharei para este post com a eterna mágoa banhada pelo sentimento de impotência... Mas que mais posso fazer? Nada. Apenas a garantia do meu voto no não, um não ao aborto, um sim pela vida!!!

Vânia Caldeira

"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças."

Fernando Pessoa

 

 

Poema sem nome

 

 

Era tão pequeno que ninguém o via.

Dormia sereno enquanto crescia.

Sem falar, pedia - porque era semente -

ver a luz do dia como toda a gente.

Não tinha usurpado a sua morada.

 Não tinha pecado.  Não fizera nada.

Foi sacrificado enquanto dormia,

esterilizado com toda a mestria.

Antes que a tivesse, taparam-lhe a boca

- tratado, parece, qual bicho na toca.

Não soltou vagido. Não teve amanhã.

Não ouviu "Querido"... Não disse "Mamã"...

Não sentiu um beijo. Nunca andou ao colo.

Nunca teve o ensejo de pisar o solo,

pezito descalço, andar hesitante,

sorrindo no encalço do abraço distante.

Nunca foi à escola, de sacola ao ombro,

nem olhou estrelas  com olhos de assombro.

Crianças iguais à que ele seria,

não brincou com elas nem soube que havia.

Não roubou maçãs, não ouviu os grilos,

não apanhou rãs nos charcos tranquilos.

Nunca teve um cão, vadio que fosse,

a lamber-lhe a mão à espera do doce.

Não soube que há rios e ventos e espaços.

E invernos e estios.  E mares e sargaços.

E flores e poentes. E peixes e feras

as hoje viventes e as de antigas eras.

Não soube do mundo. Não viu a magia.

Num breve segundo, foi neutralizado com toda a mestria.

Com as alvas batas, máscaras de entrudo,

técnicas exactas, mãos de especialistas

negaram-lhe tudo ( o destino inteiro...)

 - porque os abortistas nasceram primeiro.

Renato de Azevedo


publicado por Vânia Caldeira às 20:19

28
Jan 07

Quando as imagens e música, mobilizam mais do que as palavras que se possam dizer... Dia 11 de Fevereiro, não deixem de votar... mas em consciência.

 

publicado por Vânia Caldeira às 14:14
sinto-me:
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21
Jan 07

Declaração de Luís Marques Mendes:

É este o momento adequado para fundamentar a minha posição pessoal sobre a questão que vai ser submetida a referendo no próximo dia 11 de Fevereiro.
Mantenho a posição que assumi em 1998: o aborto provocado é, fora dos casos previstos na lei actual, um acto arbitrário e injustificado que destrói um ser humano.
É hoje inquestionável que o feto é membro da espécie humana, sendo um ser humano único, irrepetível e diferente de todos os outros. Como tal, merece respeito e protecção.
É certo que se pode verificar um conflito de interesses entre o seu direito à vida e o direito da mulher à sua autonomia, princípio que também merece o meu apoio. De facto, não se pode contestar o direito da mulher a só conceber um filho se e quando o desejar, usando da sua plena liberdade e utilizando os métodos anticoncepcionais que entender. Só que esta escolha tem de ser feita, responsavelmente, antes da concepção livre de um novo ser. Se a concepção não for livre mas resultar, por exemplo, de violação, a lei já hoje admite, e bem, a realização de um aborto.
Mas, fora das situações que a lei já consagra, o direito da mulher à sua liberdade de escolha termina quando começa o direito à vida de um novo ser humano.
A liberdade exige responsabilidade. Neste caso, a responsabilidade de respeitar um princípio fundamental, consagrado na nossa Constituição: “A vida humana é inviolável.” (artigo 24.º)
A legalização do aborto destrói um outro princípio fundamental da ética: os fins não justificam os meios. Ainda que a finalidade visada fosse resolver um problema e fosse porventura aceitável, meios intrinsecamente maus, sobretudo os que implicam a destruição de vidas humanas, não podem ser utilizados.
Na verdade, a vida humana individual não pode ser considerada nunca um meio ou instrumento. É sempre um fim em si mesma. É um valor superior a todos os outros, anterior e superior à própria lei e ao próprio Estado. A liberdade é certamente um valor muito importante, mas tem um limite absoluto que é o respeito pela vida dos outros seres humanos.
Não ignoro, é certo, o problema social que é o aborto clandestino. Conheço-o e sou muito sensível a esse drama. Penso, todavia, que esse mal, que já foi reduzido em relação ao passado, se deve combater, como todos os males sociais e económicos, com medidas enérgicas, sociais, educativas e económicas. Será o caso da protecção da natalidade e da família, do planeamento familiar, da educação sexual dos jovens ou do incentivo à adopção de crianças não desejadas.
Sei bem que este é um discurso recorrente e que, apesar disso, muito há ainda a fazer. E não desconheço que, nesta matéria, todos os Governos têm prometido muito e realizado pouco.
Mas, fora esta responsabilidade que todos devemos partilhar, a questão central é esta: numa correcta hierarquia de valores a escolha só pode ser defender a vida, não destruí-la.
E não se diga que esta é uma tarefa difícil.
Também é difícil combater a corrupção, mas combatêmo-la. Não a legalizamos.
Também é difícil combater o tráfico de droga, mas combatêmo-lo. Não o legalizamos.
O mal combate-se. Não se legaliza. Por maioria de razão, quando o bem a defender é uma vida humana.
Apesar de não haver em Portugal qualquer mulher presa pela prática de aborto, o argumento da prisão é reiteradamente esgrimido. Também aqui quero ser claro. Não concordo com aqueles que parecem querer confinar a legitimidade do Direito à sua eficácia absoluta, nem reduzo o Direito Penal à sua função repressiva. Ele tem uma função preventiva, dissuasora e, sobretudo, delimita fronteiras entre o que é ou não é lícito. Esta fronteira é essencial. Sem ela, corremos o risco de construir uma sociedade sem regras e sem valores.
Coisa diferente é saber se, nestes casos, a pena de prisão é correcta.
Não fujo, também, a esta questão e repito o que já antes afirmei: não sou favorável à pena de prisão para a mulher que decide abortar, seja antes ou depois das 10 semanas de gravidez. O que acho absolutamente incongruente na questão que está em referendo é que, até às 10 semanas, se afaste qualquer forma de penalização e que, às 10 semanas e um dia, se aplique a pena de prisão.
Para mim, a liberalização do aborto pode ter consequências graves. Promovendo-a, ela torna-se, como sublinhou um deputado do PS no debate de 1997, “um mecanismo de desresponsabilização social”.
Consagrando-a, ela traduzirá um sinal de facilidade, não uma ideia de responsabilidade.
Aprovando-a, estaremos a inverter as prioridades. Temos de nos preocupar em incentivar a natalidade, para combater o envelhecimento da população. Ao contrário, estamos a promover o aborto, instrumento de destruição de uma nova vida.
Em vez de ser um sinal de modernidade, como alguns dizem, ela pode ser um retrocesso cultural.
Uma sociedade moderna e responsável constrói-se com referências, valores e prioridades. É esta a minha convicção.
Por isso, votarei ‘não’ no referendo.


Luís Marques Mendes

publicado por Vânia Caldeira às 22:14

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