24 de Setembro de 2005
Roubaram-me o meu sonho durante a noite... enquanto sonhava. Nesse instante de evidente fragilidade, de um momento para o outro, deixei irremediavelmente de sonhá-lo. .. Aquele sonho: sonho de uma vida, de uma esperança.
Sinto-me uma peregrina que perscrutou, planeou durante anos o seu caminho, chegando mesmo a iniciá-lo. Escolhi o melhor percurso, não o mais fácil, mas o melhor! Aquele cuja meta fosse, a mais ambicionada, a mais desejada: a realização pessoal, a concretização máxima das minhas potencialidades, a felicidade. Escolhi o caminho, trilhei-o, limpei, levantei e tirei do meu percurso, aos poucos, todos os obstáculos... Mesmo as pedras, os galhos, as ervas... Tornei perfeito esse caminho que escolhi. E entrei nele, invadi os seus domínios, iniciei a minha jornada, seguindo sempre, com feliz rigor, a trajectória que tracei. Certos obstáculos ou acidentes naturais, rios, penedos, vales, montanhas não os pude evitar, mesmo sabendo que eles lá estariam. Outros imprevistos foram inevitáveis surpresas nesta minha longa viagem de três anos. A neve, o calor, a chuva... Tudo enfrentei e nada me derrubou. E de repente, sem saber porquê, cortaram-me a estrada, impediram-me de prosseguir, de avançar no meu percurso, o mais perfeito, o que eu mais queria. E chegou a fase mais dolorosa da minha jornada: o percurso inverso, contrário ao acto de acreditar, um verdadeiro confronto com a realidade, um autêntico roubo dos sonhos, do projecto que eu traçara.
Recuei e voltei ao cruzamento da minha vida, sem rumo... senti-me perdida. Num mero golpe de sorte, entrei, desta vez não escolhi, limitei-me a entrar instintivamente num outro caminho, uma outra estrada. E esta é muito áspera, porque a não conheço, porque não é a mais desejada. è um caminho por desbravar e por conhecer. E, no entanto, vou percorrendo este caminho, tendo como principal obstáculo a minha própia vontade!
"O destino baralha as cartas, mas nós é que fazemos o jogo."
Shakespeare
