Já lá vai o tempo em que ter um curso universitário valia alguma coisa... Pelo menos valia um emprego. Agora: é uma óptima forma de gastar o nosso tempo, de aprendermos e de nos divertirmos, de gastarmos o dinheiro aos pais e de ... termos o desemprego como certo.
Sempre gostei particularmente de ler e escrever e cheguei mesmo a pensar seguir um curso na área das Letras. Porém, perante o estado das coisas optei pelo Agrupamento 1. No entanto, e como no ano anterior, por algumas décimas, não entrei no curso que queria... Decidi que iria fazer uma experiência nas Letras e que se percebesse que afinal era isso que eu queria nada nem ninguém me impediria de lá ficar.
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: uma fantástica experiência! Antes de mais pude conhecer a vida universitária, o que não aconteceu a colegas minhas que ficaram mais um ano em casa para tentar mudar de curso. Conheci Shakespeare, Aristóteles, Platão, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Gabriel Romagnoli, Cervantes, Homero, Vergílio, Ésquilo, Sófocles, Teolinda Gersão, Sophia de Mello Breyner,... Tive cadeiras fantásticas como Bases de Análise Gramatical, Linguística, Literatura, Cultura Clássica, Cultura Espanhola, ... Aprendi Italiano e Espanhol...
Mas depois de um ano com óptimas notas (pelo menos comparativamente às que são comuns naquela faculdade) percebi que, por um lado, não é verdade o que os de Ciências costumam dizer: as Letras são muito mais fáceis. Não é verdade. O rigor dos professores catedráticos, muitos deles, é bastante grande. O resultado: notas sempre muito baixas, já que cheguei à conclusão de que vão para as Letras os alunos que não conseguem entrar em mais lado nenhum ou os que pensam que é mais fácil. As Letras estão decadentes por isto. As pessoas que poderiam triunfas nelas (e devem ser muitas), percebem que elas não garantem um emprego e desistem da ideia.
Quanto a mim... Durante um ano excepcional, senti, no entanto, falta do rigor científico e da exactidão das ciências, das novidades e de toda a vida que gira em torno das ciências. Mas as letras foram uma experiência que me influenciará a minha vida futura: nas leituras, na análise dos textos literários, na escolha do que ler... De qualquer forma, este ano voltei a estudar para os exames nacionais de Química e Biologia... E espero que consiga entrar, pois com o passar do tempo percebo cada vez mais que é isso que quero!
Voltanto ao estado actual do país para os jovens... As oportunidades não existem! Nem para os com curso, nem para os outros. Um colega meu tirou Comunicação e Cultura na Lusófona e continua a fazer o mesmo que fazia antes: trabalhar num escritório de seguros (que, por sinal, é dos avôs). Outros, sem curso ou quem curso, desesperados, vão a uma grande empresa pedir para ir para Angola, pois o ordenado está na ordem dos 1500 € .
Este país não está a pensar em nós... E não sabe o que perde!
Vânia
