Os dias não têm sido particularmente felizes em Pequim... pelo menos para os lusitanos. Depois da desilusão de Telma Monteiro, uma das grandes esperanças do judo, foi a vez de Obikwelu nos deixar de ombros caídos. Porém, e creio que é isso o mais importante, nenhum deles teve uma má prestação, nenhum envergonhou as cores do país que ostentou. Ambos deram tudo, até à última. Ambos acreditaram, como todos nós.
E se analisarmos as tarefas de ambos com maior pormenor podemos questionar a sorte portuguesa. E isso existe? A Telma teve logo de se defrontar com a judoca da casa. E, depois, no duelo frente à espanhola, a outra podia ter sido penalizada por falta de combatividade e não o foi.
Obikwelu teve duplo azar: não só calhou na série com melhores atletas das meias-finais, como nas séries que disputou houve sempre algum colega que se lembrou de cometer uma falsa partida. E, verdade seja dita, Francis teria muitas mais possibilidades de estar na final se não fosse essa falsa partida. A pressão aumentou e o medo de cometer nova falsa partida contribuíram para um arranque castrador que não deu hipóteses ao português. No fim, manteve a humilde atitude de sempre, o enternecedor respeito ao povo português e, infelizmente, aquele olhar triste de quem queria muito mais e de quem merecia muito mais. Devemos lembrar-nos que até o grande Tyson Gay ficou de fora das finais. Obikwelu deixa, sem dúvida, um enorme vazio ao terminar a sua carreira mas, tal como Nuno Delgado, optou por colocar as questões de saúde em primeiro lugar.
Mas se é lamentável que o trabalho dos portugueses em competição não esteja a ser devidamente recompensado, também o é a falta de notícias acerca de muitos artistas do palco de Pequim.
É o caso da fantástica Jessica Augusto que estreou uma nova modalidade nas Olimpíadas: 3000m com obstáculos, prova que exige resistência e agilidade. Fez uma prova extraordinária e só nos últimos momentos, por um pequeno descuido, não conseguiu ser apurada.
A natação, modalidade muitas vezes deixada para segundo plano, tem-nos contemplado com grandes provas. Tiago Venâncio, Diana Gomes e Pedro Oliveira fizeram boas prestações no Cubo e bateram alguns recordes pessoais. Mas para todos aqueles que vibram com a natação, como é o meu caso, Michael Phelps não pode passar indiferente. E, de repente, algures entre o momento em que ele mergulha naquela piscina e aquele em que toca a mesma em primeiro lugar vemo-nos a torcer por ele, a desejar que vença mais um recorde (mundial ou olímpico, pouco importa). O que é certo é que o "tubarão" de Pequim já fez história ao bater um novo recorde, tendo levado com ele todas as medalhas de ouro que podia: 8 ao todo! E o que tem este menino de português? O extraordinário fato de competição! Já é qualquer coisa...
Mas também no atletismo, na final dos 100m (da qual Francis foi afastado) deu prazer ver o jovem-sensação do momento e a naturalidade com que bateu todos os adversários: o jamaicano Usain Bolt. Com facilidade e estilo venceu a prova, bateu um novo recorde e deixou a promessa de que continuaremos a ouvir falar dele. Quem o vê correr chega a acreditar que é fácil...
Entretanto a vela silenciosa e discreta, como sempre, vai prometendo bons resultados.
Agora resta esperar que Vanessa Fernandes, Nélson Évora e Naide Gomes sejam capazes de tecer eles próprios a sua sorte e lutar pelos merecidos lugares no pódio olímpico. Que saibam deixar a pressão e as enormes expectativas dos outros de lado, tal como diz a Vanessa no excelente anúncio da Nike. Just do it.
Mas depois de toda esta maré de azar já não sei nada...
Aliás, agora que o Hulk deixou de ser verde e veste azul e branco em campo e que o inesperado aconteceu e a Taça Eusébio não ficou na Luz... já acredito em tudo...
Felizmente a noite trouxe algumas alegrias com a disputa da Supertaça Cândido de Oliveira. Pelo menos a alguns. No estádio do Algarve aconteceu um grande jogo, com duas grandes equipas que começaram já a mostrar que a nova temporada promete. Foi uma noite brilhante. Com um Yannick (finalmente) determinado e confiante a marcar dois belos golos, com um enorme Rui Patrício, muito seguro, a evitar as grandes oportunidades dos dragões e com um momento de glória quando conseguiu continuar enorme, mesmo perante um também grande Lucho. Foi ainda noite de um cada vez mais determinante Rochemback e de um perfeito e sempre presente Izmailov.
O Sporting mostrou ter uma verdadeira equipa a todos os níveis, tanto na forma como trocam a bola e parecem estar bastante integrados, como no que se refere ao companheirismo, quando todo o banco se agarrou ao miúdo para festejar os golos ou quando fizeram questão de não esquecer o tão adorado Paulinho no momento do troféu.
Por fim, foi o pequeno João que se tornou outra vez grande ao erguer em mãos o troféu e, simultaneamente, esboçar o sorriso da definitiva reconciliação com os adeptos. Sim, é verdade: a imagem parece sempre a mesma, mas garanto que não é. Os fotógrafos não têm culpa que o Moutinho passe a vida a erguer taças e até supertaças. Habituem-se!
Mais uma Supertaça, mais uma prova de que o Porto não tem de ser a melhor equipa. Basta que não os deixemos. Basta acreditar e concretizar, sendo melhor. E, ontem, o Sporting soube como conseguir ser melhor, tal como há um ano atrás.
Agora é esperar pelo início da tão ansiada nova época! Boa sorte, leões!