Não sei se no futebol se aplicam as fatídicas leis do Destino. Mas, certamente, as da sorte, do azar e dos acasos funcionam, como em todas as circunstâncias da vida.
E o Europeu deste ano foi fértil em ironias...
As exibições nas últimas competições europeias ou mundiais não têm deixado saudades aos espanhóis. Talvez por isso, a selecção espanhola foi aquela que, este ano, apresentou no seu autocarro a frase mais céptica de todas: "Pase lo que pase, España siempre". Tem tanto de desconfiança face ao futebol praticado, como de orgulho em ser espanhol. Esse inabalável orgulho que não deixa espaço, na língua de "nuestros hermanos" para estrangeirismos. Orgulho de louvar, sem dúvida...
Fiquei particularmente feliz com a vitória espanhola. Desde o primeiro jogo frente à Rússia que a Espanha mostrou um futebol fluido mas, sobretudo, que prima pela organização, pela excelência na troca da bola. Um futebol inteligente. A Alemanha, mais cínica e calculista, vinha sendo implacável na destruição dos adversários com a melhor, mas também a mais dura das armas: a da eficácia. Quem quer ver espectáculo não assiste a um jogo alemão... Mas, o que é certo, é que, no fim, eles ganham sempre. Ou quase sempre... E aqui surge outra ironia: naquele que foi, na minha opinião, o melhor jogo da Alemanha... eles perderam! E deu-me particular prazer relembrar os rostos desiludidos e mesmo desesperados dos portugueses reflectidos, pela primeira vez, nas faces, geralmente, frias e indiferentes de Podolski, Ballack ou Schweinsteiger. E mérito ao capitão: que bem lutou pela vitória.
Ironia também, foi o facto de o "puto maravilha" que, entretanto, já foi promovido antecipadamente por muitos a "melhor jogador do mundo", nem sequer fazer parte da equipa ideal do Euro. De salientar, neste ponto, o merecido lugar ocupado pelos magníficos Pepe e Bosingwa.
Os portugueses perderam... mas um ganhou. Quem? O mesmo de sempre. Incontornável. Perspicaz. Único. "The special one". Mourinho apostou na selecção dos nossos "irmãos" ibéricos e provou, mais uma vez, que nunca aposta em falso e que, quando o faz, é para ganhar. Terá certamente muito sucesso no Inter.
Por fim, resta-me dizer que este Europeu deixou um sabor muito especial... viram-se grandes exibições: a Holanda, a Rússia, a Itália e até a surpreendente Turquia. No fim, e ao contrário do que acontecera no último europeu, consagraram-se os justos vencedores: aqueles que praticaram o melhor futebol, que não sofreram golos nos últimos jogos, aqueles que nos ofereceram o tão desejado espectáculo, com excelentes exibições individuais (de Xavi, Iniesta, Torres ou do herói Casillas) sem manifestações de egoísmo e sem esquecer que o grupo é o mais importante para alcançar a vitória. E aqui, muito provavelmente, a selecção portuguesa tem muito que aprender com eles.