Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

24
Mar 08


Ele sabia que não os podia desiludir. Tinham reunido todos os esforços, tinham dado demasiados pontapés nas duas primeiras letras dos "impossíveis", tinham feito tudo por ele. "Para que fosse alguém na vida", diziam.
Mas, sobretudo, tinham feito o que poucos conseguiram (e ele devia-lhes isso): acreditar verdadeiramente nele e nas suas aparentemente inférteis qualidades. Os seus pais eram, efectivamente, os "melhores pais do mundo". E, por isso, não os podia desapontar...
Ao som da terrível tempestade que rebentava lá fora, dava mais uma irrequieta e angustiada volta na cama: o sono teimava em não chegar e o descanso, esse, estava bem longe de lhe dar tréguas. Vivia mais do que uma patológica crise de insónias. Vivia um angustiante conflito interior, sem terapêutica conhecida e de prognóstico muito reservado.
Porque, lá bem no fundo, ele sabia que simplesmente não estava à altura das expectativas. Ele sabia que não era suficientemente bom. Ele sabia que, no fim, desiludiria os que mais os amavam.

Na manhã seguinte, os pais encontraram-no no chão do seu quarto, pálido e gelado. Jazia com uma invejável serenidade que nunca cultivara em vida. Ao lado do corpo inabitado, vários frascos de medicamentos espalhados pareciam ter ditado a sentença final. Fora a sua decisão e falta de coragem de enfrentar o futuro e de ter a responsabilidade de triunfar nele que tinham vencido e feito a morte parecer mais tentadora do que uma vida condenada ao fracasso. Apenas porque, no fundo, ele sempre soube que desiludiria os seus pais. E desiludiu.
publicado por Vânia Caldeira às 10:07

Março 2008
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