A nossa vida é, na realidade, um ciclo. Em paralelo com a linha do tempo que vai deixando em nós as marcas da idade (não apenas as físicas, mas sobretudo os traços de carácter que se vão definindo), há um ciclo contínuo que se renova e repete a cada ano. Todos os anos surge a expressão "Ano Novo, Vida Nova" que, mais do que uma expressão vulgar, parte de uma ideia que nos visita a cada ano. Todos os anos a esperança de que o próximo seja melhor, todos os anos a análise do que fizémos de errado ou do que ficou por fazer, todos os anos novas metas e desafios, novos sonhos e objectivos. O que mudou e o que se manteve. O que éramos e o que somos. Ano após ano...
Mais um ano. Passam demasiado depressa para termos tempo de nos habituarmos a eles. Provam que a imutabilidade da vida não passa de um mito, a que por vezes nos agarramos na tentativa de vislumbrar a felicidade. Mas a ideia está errada. É na mudança que temos que depositar a esperança, é a ela que temos de nos afeiçoar para conseguir alcançar não a felicidade eterna, mera quimera, mas pequenos momentos de felicidade que nos realizem verdadeiramente, que dêem sentido ao que somos e ao que fazemos. "Carpe diem".
O ano de 2008 traz uma novidade para todos: a nova lei do tabaco. E, com ela, pode dar-se significado à expressão "Vida Nova". Uma vida mais saudável, na qual os não-fumadores não terão de fingir que gostam de conviver com o incómodo fumo nos espaços públicos. Ainda parece um sonho, mas será óptimo experimentar este novo ano: entrar em cada café, restaurante, bar, discoteca, locais de trabalho e poder respirar profundamente. Não ter de sair com os olhos "a arder" dos espaços de divertimento nocturno, não passar a vida a tossir, nem chegar a casa com um cheiro intolerável nas roupas. Tudo isso acabou.
Favorável aos não-fumadores, restam os fumadores. Já ouvi muitos que concordam com a lei. Fumam, mas não acham agradável o ambiente poluído e incomodativo que se verifica em muitos espaços públicos. Não sei se os fumadores deixarão de fumar devido à lei. Se o não fizeram devido aos consecutivos aumentos do preço do vício, não me parece que o façam graças à nova lei. Mas acredito que passarão a fumar menos e, sobretudo, que a lei diminuirá a longo prazo o número de futuros fumadores. Com esta proibição o tabaco perde um dos componentes que o fez crescer entre a população: o social. Usado como forma de atitude perante os outros, para passar o tempo, porque é chique ou, simplesmente, porque numa mesa todos os outros fumam... Assim, há um importante incentivo que desaparece com a evaporação do tabaco dos espaços públicos.
Por fim, desejo a todos um óptimo ano de 2008, mais saudável e sem fumo!