A Internet facilita indubitavelmente muitas coisas: facilita as rápidas comunicações, faz-nos estar sempre mais perto daqueles de quem gostamos, estarmos mais presentes nas vidas dos outros, informarmo-nos rapidamente acerca de qualquer dúvida, põe-nos em contacto directo com o mundo...
No entanto, também tira a magia a alguns prazeres.
Por um lado, torna tudo mais impessoal. As pessoas perdem a coragem de dizer olhos nos olhos o que sentem, preferindo um teclado e um ecrã como barreira filtradora de medos, vergonhas, angústias e incertezas.
Na Internet tudo é mais fácil. É mais fácil dizer o que se pensa mas não se consegue dizer frente a frente; e, sobretudo, é mais fácil dizer o que não se pensa e só se diz por jeito ou simpatia. A mentira é vulgar, a ilusão uma constante.
Os e-mails estão longe de ter a magia das cartas. Primeiro, não há comparação entre a sensação de ouvir o sinal de chegada de correio electrónico e o abrir da caixa de correio, o acto de pegar na correspondência, verificar o remetente e abri-la na expectativa do que se poderá encontrar no seu interior. A maior intimidade conferida por uma caligrafia que não os caracteres do teclado é outro pormenor que confere vida a cada carta, individualidade a cada mensagem.
É por isso que nesta quadra tão festiva, e para mim tão especial, não me privo deste pequeno luxo da correspondência. Todo o processo é demorado, nem sempre há muito tempo, mas só a dedicação com que me entrego e o gozo que me dá... compensa. Começo por comprar os cerca de trinta postais de Natal, depois escolho um poema ou uma frase de acordo com a época natalícia e, por fim, personalizo cada mensagem. Nunca me deixo cair na monotonia de escrever uma mensagem padrão. Cada postal tem uma mensagem dedicada a cada amigo, aos momentos que vivemos juntos, aos segredos que partilhamos, ao afecto que nos une...
Além de escrevê-los, é também muito agradável receber os postais. Todos diferentes, todos simbolizando uma amizade especial, lembrando lugares, recordando outros tempos, muitas vivências... Traduzindo afectos, esses laços invisíveis que nos unem inexoravelmente uns aos outros e nos apertam de um calor humano que, no entanto, parece obra dos deuses. Transmitindo desejos, carregados de verdade e autenticidade.
Adoro esta época do ano. Porque é época de recordar, visitar, presentear amigos que o tempo, ou a falta dele, obriga a (quase) esquecer ao longo do resto do ano. No Natal não há desculpas, nem barreiras... a amizade fala sempre mais alto!