Interessante a atitude do Bastonário da Ordem dos Médicos ao anunciar que não irá alterar o código deontológico, mesmo após a nova legislação referente à prática do aborto.
Em causa está o artigo 47º que aponta o aborto como uma "falha grave". Este ponto nem vou discutir. Basta ler posts anteriores para perceber a minha clara opinião: sou contra o aborto, não o faria em nenhuma das situações (nem enquanto paciente, nem enquanto futura médica).
Independentemente dos meus princípios e opiniões, a nova lei tem sido bastante eficiente: afinal, os abortos têm-se tornado uma prática diária. Missão cumprida para os que votaram "sim". Uns poderão agora afirmar-se mais felizes porque finalmente a mulher tem a liberdade de escolher, outros porque acham que desta forma se está a abolir muita miséria...
Eu fico triste: porque acredito que estamos a desperdiçar (para não usar o termo "matar", ferindo susceptibilidades) vidas humanas.
Voltando à questão da ética: gostei particularmente quando Pedro Nunes (o bastonário) disse que "a independência, autonomia e liberdade dos médicos não são negociáveis". Embora pareça cada vez menos inconcebível, no nosso mundo, restar alguma coisa que não esteja à venda, gostaria de acreditar que pelo menos a ética não é negociável.
Gostaria de poder acreditar que, no mundo em que espero entrar daqui a uns anos, um mundo que aos poucos vou começando a tocar, ainda existem valores primordiais, que não se regem por interesses alheios, por cores partidárias, por chantagens ou subornos; mas apenas pela vontade de salvar ou melhorar as vidas humanas.
A questão agora é apenas uma: quando é que vou acordar deste sonho?
Quanto mais tarde, melhor...