Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

13
Nov 07

 

Penso em envelhecer... e apodera-se de mim um medo pavoroso. Tremo perante o saber que um dia no meu rosto nascerão pregas intoleráveis, profundas marcas de uma idade que não perdoa. Os cabelos perdem a cor, de cansados... E o olhar perde o brilho da descoberta, deixa-se tornar baço pela monotonia. O espírito perde a juventude para "ganhar" a certeza de um tempo que não volta e que deixou no banco da saudade a nostalgia de momentos irrepetíveis.

Gosto de mim? Sem dúvida. Na verdade, o meu quarto revela esse mundo, talvez um pouco egocêntrico, e diz-me quem sou: envolvida por uma moldura branca, em cima da minha mesa de cabeceira, uma jovem, deitada sobre um sofá aos quadrados coloridos (lembrando um ambiente de praia), evidenciando a sua pele doirada pelos raios de sol, mostrando a finura dos seus braços com a elegância afirmada pelo bonito top preto e as pernas, subtilmente destapadas na curta saia branca de praia. Ela expressa um sorriso rasgado e sincero. E sorri, indiferente ao passar do tempo ou aos problemas a que me entrego. Sorri, alheia a qualquer mundo, espaço ou pensamento.

Enquanto escrevo, sinto outro qualquer olhar fixado em mim. Outra rapariga me sorri, indiferente ao que sou ou virei a ser: cabelo solto sobre os ombros nus e claros, ainda por doirar, apesar de envolta numa paisagem de praia - a areia brilha, o mar parece mexer, os turistas caminham... O principal destaque desta fotografia que, ao olhar com maior atenção e proximidade, desconfio ser a mesma rapariga do anterior retrato, é o rosto. Um rosto cuja metade esquerda está perfeitamente iluminada e transpira alegria, felicidade... O lado direito mantém-se na sombra e esconde os segredos e os desejos daquela rapariga. No entanto, ela permanece em frente a mim, sorrindo... Sorri porque sabe que terá para sempre aquele ar de bela jovem, aquele penetrante olhar verde, aqueles cabelos cujo "peso leve" da água destacam, aqueles ombros nus e desprevenidos, aquele rosto perfeitamente delineado, aquele lindo sorriso de quem sorri sem tempo nem espaço.

Não aguento mais estes olhares provocadores. Ao fundo do quarto, junto dos livros de Medicina, outras duas raparigas, ou sempre a mesma... E sempre a sorrir, ora numas rochas junto ao mar, ora sem nenhum fundo, qual manequim estrategicamente preparada para a foto... E depois mais abaixo, entre os meus livros, uma outra sorri, encostada a um Seat Ibiza vermelho, com um cabelo invejavelmente loiro e brilhante...

Abstraio-me dos olhares desafiadores e olho à minha volta: há um tempo e um espaço, uma ordem natural das coisas impossível de inverter! Penso em mim: já tenho 20 anos e estou no 2.º ano de faculdade - como a vida passa e nos foge das mãos depressa demais e é urgente aproveitá-la. Penso como quero ser recordada: como alguém muito feliz, que foi uma fantástica profissional, adorou o que fez, como alguém que, de alguma forma, cumpriu a sua missão.

É neste momento que me apercebo de que todas aquelas raparigas são a mesma e de que todas são eu e eu sou todas. Há uma ânsia comum, em todos os olhares, de ser feliz, uma necessidade profunda, em todas as expressões, de ser útil, uma vontade ardente, em todos os sorrisos, de ser lembrada e um desejo - sabido impossível - em todas as consciências, mas latente em cada pose: o de ser eternamente jovem! E assim reconheço-me em cada olhar, em cada sorriso, em cada rosto.

Se, por um lado, adoro estar rodeada de fotografias minhas, que me lembrem quem sou, por outro, elas levam-se também a pensar que não serei sempre assim. E que se agora posso rever-me nas fotografias e achar correspondência ao refugiar-me no espelho, haverá o dia em que apenas restarão as fotografias de um tempo que não volta mais e uma nostalgia inextinguível. O que resta, além de tudo isso?

Resta o mais importante: o que realmente sou, despida de tudo o resto, o que ao longo da minha vida construi, os laços que criei, as memórias que escrevi...  

publicado por Vânia Caldeira às 21:14
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