É deprimente como a nossa lei se adequa tão pouco à nossa realidade. Cada vez que aquele homem baixo, vestido de militar e coxeando ligeiramente aparece no ecrã, estremeço… Olho aquele homem e admiro-o. E não percebo…
Porque é que a lei protege sempre os pais biológicos? Tem de haver uma maior protecção dos pais adoptivos, aqueles que (na maioria das vezes) efectivamente se preocupam com as crianças, aqueles que são, para as próprias crianças, os seus pais. Não é fácil adoptar uma criança hoje em dia… A mim a ideia agrada-me particularmente, gostava imenso de adoptar uma criança. No entanto, parece-me que a sociedade portuguesa ainda é preconceituosa no que toca estas questões. Um casal que opte pela adopção ainda é olhado de lado… Mas pior do que isso, é o facto de que um casal que adopte uma criança, pode ser obrigado, anos mais tarde, a ter de a “devolver” aos considerados “verdadeiros pais”, pelo tribunal. E não uso o verbo casualmente. Aos olhos da justiça, a criança é como um bem que pode ser primeiro deixado numa casa, mas depois de reconsiderada a questão, pode ser entregue noutra. No meio de tudo isto quem se preocupa com o que é melhor para a criança?
Ser bruscamente retirada aos que sempre conheceu como pais e entregue nas mãos de um homem que nem mostrou interesse quando a mãe biológica lhe disse que estava grávida de um filho seu, um homem que duvidou, um homem que ignorou, … e que só depois se lembrou de reivindicar a criança que diz ser “sua filha”? Ou continuar a viver com uma família que a estima, que a acolheu há 4 anos atrás e que é a única família que conhece?
Apesar da crueldade da lei… este caso evidencia sentimentos maravilhosos…
É de louvar o espírito de coragem deste pai adoptivo, disposto a cumprir pena de 6 anos para não revelar onde se encontram a filha e a mulher.
E também é de admirar… o silêncio de Torres Novas quanto ao paradeiro da criança e a vontade de libertar o militar. Um pedido de habeas corpus está a ser reivindicado pelos habitantes desta localidade, pelo facto de o militar ter sido privado da sua liberdade sem justa causa, já que não foi provado o rapto nem o perigo para a criança, nem as suas atitudes se coadunam com essa mesma evidência.
Veremos o que o tribunal vai fazer a esta criança… esperemos uma de duas coisas, ou que a lei seja ponderada e passe a ter o afecto e a própria criança em consideração, ou que, simplesmente, a menina nunca mais apareça.