Eu admito que às vezes tenho umas ideias um bocado estranhas... E sobretudo, sempre muito diferentes de toda a gente... Mas será assim tão estranho que eu me escandalize com a despenalização do aborto? Ou devo dizer com a banalização do mesmo?
Primeiro que tudo, e apesar de compreender a ingrata posição de Cavaco Silva, e a sua consequente aprovação do projecto de referendo, não entendo o que mudou no país desde o último referendo que justifique um novo. Se em 1998 o referendo disse que "não" porquê repeti-lo? Todos falam da crise que o referendo, enquanto processo legal, atravessa em Portugal: o número de pessoas que se tem dirigido, nos últimos anos, às urnas nestes eventos têm vindo a descer cada vez mais. Mas será que este 2.º referendo não vem tornar ainda mais ridículo o conceito de "referendo"? Será que não vem denegrir ainda mais a ideia que temos dele? Em 1998 não tive ainda, por falta de idade, a oportunidade de votar: mas se o tivesse feito, diria o mesmo que vou dizer em Fevereiro: não! Alguns dirão que falta maturidade, que "não cresci" já que os anos passaram e a ideia permaneceu... Eu digo apenas que não alterei a minha forma de ver o aborto porque não há outra forma de o ver: ele é crime e deve ser punido como tal. Não calculo qual poderá ser o resultado deste novo referendo... mas creio que isso não é um problema. Se voltar a ganhar o "não", creio que o PCP não hesitará em propor, já no próximo ano, um novo referendo. Então e se ganhar o "sim"? Também posso ter esperança num novo referendo? Porque não fazer um referendo novo todos os anos? Assim podíamos dizer que a nossa legislação estava de acordo e sempre actualizada com as mentalidades, com a sociedade...
Concordo com a actual legislação. A interrupção voluntária da gravidez deve ser permitida até às 10 semanas de gestação em condições de má formação do feto, risco de vida para a mãe ou violação. E não tenho nada mais a dizer. Só nestes casos "matar" uma futura criança fará algum "sentido"... Ou pelo menos, terá alguma justificação...
E digam o que quiserem: que não passa de um feto, um embrião, um simples ponto, ... já ouvi de tudo e nada nem ninguém me conseguiu convencer do contrário. Pode ser um ponto, um feto, um embrião, mas é, antes de mais, uma potencial criança. Porque esse ponto, esse feto, esse embrião é uma futura criança.
Por motivo de doenças terminais, que envolvem muito sofrimento ou significativas perdas de qualidade de vida e dignidade, a nossa legislação não deixa as pessoas optarem pela vida ou pela morte. Elas não têm o direito de decidir acerca da sua própria vida. A eutanásia é crime e é punida como tal, tanto àqueles que tentaram e foram mal sucedidos, como aos respetivos cúmplices. Então porque é que a lei há-de tolerar que uma pessoa tenha direito de decisão sobre outra? Porque é que o aborto (quando não coincidente com o permitido pela lei) não deve também ser considerado um crime e punido como tal? Há quem diga que é vergonhoso acusar de crime uma mulher só porque abortou... Quanto a mim é bem mais ridículo punir uma pessoa que quer acabar com a sua própria vida... A vida é sua... Num aborto há uma pequena vida nas mãos de uma mãe.
Apesar de a maioria dos homens que conheço ser a favor do aborto e creio que isso se deve a uma tentativa de auto-defesa... Afinal não são os homens os primeiros a fugir de responsabilidades quando a respectiva parceira fica grávida? Não são eles os primeiros a sugerir o aborto... ? Não sempre, mas certamente um dos motivos que leva as mulheres a ponderarem o aborto, principalmente as mais jovens, será a falta de apoio do pai da criança.
Os que são a favor... muitas vezes alegam um motivo não muito próprio: o seu direito de decidir. Não concordo lá muito com isto... O corpo é da mulher, é ela que vai ter a criança... apesar de achar que um filho é um assunto a ser debatido a dois, a última decisão deve ser sempre dela.
O aborto será sempre um tema que me fará estremecer... Não vou compactuar com a despenalização do aborto, não concordo com a abolição de responsabilidades a quem o pratica... Mas, enfim... Veremos o que dita o referendo.
Já agora e a propósito deste tema, recomendo-vos que passem por: http://despenalizar.blogs.sapo.pt/
"À Mulher
Se tens um filho no ventre
E pensas que o não podes ter
Confia em Deus ! Que esse ente
Tem direito de nascer.
E há lugar entre a gente
Para um belo e novo ser
Que embora frágil, sente
E já luta para viver !
És pelo querer de Deus
Mãe defensora dos seus
Sempre amada e estremecida:
E não pode haver razão
Mais alta que o coração
Que tens em ti e que é VIDA!"
Modesto Melo Martins
2005