Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

22
Mar 09

 

Há dias em que fico triste com o futebol português. Demasiado triste. Erros inadmissíveis. Um assistente que não vê. Um árbitro que não hesita em ver o que não há e marcar o que não é. Um jogador revoltado que terá de se cingir à sua revolta porque, no fim, não há nada a fazer. Uma medalha atirada fora (e com razão!). Uma taça que foi levada pelo clube errado. E mais uma injustiça a juntar à lista.

 

O menos mal? Pelo menos o Sr. Lucílio teve a decência de assumir o erro. Perante as atitudes execráveis dos árbitros portugueses, já é qualquer coisa...

publicado por Vânia Caldeira às 20:20
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11
Mar 09

 

Ser mulher.

 

Gosto de pensar que, hoje em dia, o orgulho de ser mulher nos recorda, a todas, as imensas lutas e consequentes vitórias que outras, em tempos distantes, travaram e conquistaram com a força do seu pensamento e a virtude das suas ideias. Batalha sem tempo, essa. A da igualdade, a da dignidade e a do respeito. Apenas por um lugar na sociedade, longe do velho papel de mãe e esposa, cumprido de forma sacrificada. Em busca de mais do que isso. Porque merecemos mais. Porque valemos muito mais.

Um lugar ao lado dos homens, com direitos e reconhecimentos semelhantes. Porque somos iguais. E, muitas vezes, melhores. Mais capazes, mais aptas, mais responsáveis, mais dedicadas. Porque estamos habituadas a sentirmo-nos postas à prova e a superarmos todos os testes.

E, no entanto, em dias como este, fico profundamente triste. Porque sinto que tudo não passa de uma fachada. A sociedade não mudou tanto quanto se esperava. Continua igual... Os homens não mudaram (a maioria, pelo menos, não). Um estudo veio hoje revelar que um em cada sete britânicos acha normal bater na namorada. Os números da violência no namoro não param de crescer e os actos machistas repetem-se numa sociedade que se diz jovem, moderna e civilizada. O assédio à mulher no trabalho é frequente, a escolha de homens para os cargos mais altos também. Os homens não mudaram: as palavras talvez tenham mudado, se tenham suavizado e preenchido de falsas cautelas ("porque fica bem, porque elas gostam de ouvir, porque é bonito"), mas os seus gestos e as suas ideias são, bem no fundo, as mesmas.

Mais do que isto, preocupa-me que muitas mulheres não tenham mudado. Umas porque a idade não lhes dá espaço à mudança. E outras... essas são as que não compreendo. Têm elas próprias profundas raizes de uma sociedade machista: onde se habituaram a servir os homens e a criticar as mulheres que o não fazem. Onde um homem que traia a sua companheira é um "mulherengo" (expressão acompanhada de um leve sorriso) e mulher que faça o mesmo não passa de uma "puta" (e perdoem-me a expressão). Onde não cultivam o respeito por si próprias, a ambição de chegar sozinhas a lado algum, a vontade de vencer e provar ao mundo o seu valor. Que se limitam a acreditar naquilo que eles lhes dizem, que se circunscrevem ao "nada" com que eles as rotulam. Cujos objectivos de vida são casar e ser esposas dedicadas.

E, agora, pergunto: haverá assim tanta diferença entre estas mulheres e as de há uns séculos atrás? Ou aquelas que se escondem numa burca nos países árabes? Provavelmente, a principal diferença é que as de hoje perderam a força de mudar as coisas. E se acomodam. E como esta realidade pode doer... É tempo de sermos verdadeiramente iguais. Não queremos que nos favoreçam, não precisamos! Queremos o simples direito de sermos iguais, no que fazemos bem e no que fazemos mal. Sem excepções. Será demais sonhar com isso?

publicado por Vânia Caldeira às 19:59
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06
Mar 09

 

Solta-te, grito calado!

Liberta-te, lágrima contida.

Voa alto, liberdade roubada.

Reaparece, memória esquecida.

 

Foge vida aprisionada.

Cresce sentimento reprimido.

Respira, sopro abafado.

Surge, caminho nunca percorrido.

 

Soletra-te, palavra improferível.

Ergue-te, vontade apagada.

Desponta, ambição escondida.

Dói, ferida não sarada.

 

Chega de meias palavras e de coisas que ficaram por dizer.

Chega de um estado de sonolência e sobrevivência.

Chega de medos e cautelas quando de liberdade se trata.

Chega de contenções e de falsas aparências.

 

É tempo, é hora, de se libertarem as correntes que nos prendem...

de sermos mais e melhor mas, sobretudo, de sermos finalmente nós!

publicado por Vânia Caldeira às 22:24

04
Mar 09

 

Aquela notícia deixara-a de rastos. Mais do que uma notícia, uma verdadeira sentença sobre a sua vida. Impassível. Ouvira-a, procurara percebê-la. Mas nestes assuntos nunca há compreensão possível. Apenas aceitamento e consciencialização. Tarefa árdua.
Nunca desejara muito da vida. Os sonhos de infância foram poucos e rapidamente dissipados com o avançar dos anos. Ao olhar para a sua vida e a sua atitude perante a mesma, considerar-se-ia uma mera espectadora. Nunca fizera nada para mudar o seu destino. Se é que essa entidade existia… Limitara-se a sobreviver. Viver cada dia, esquecendo a bênção de que se tratava.
Agora pensava em tudo o que poderia ter feito: e isso doía-lhe profundamente. Todos os planos que poderia ter traçado, todas as causas que poderia ter abraçado, toda uma vida que poderia realmente ter vivido. Pensava nos amigos que esquecera algures, num determinado ponto da vida. Recordava todos os projectos que abandonara, como se de lixo se tratasse.
Nunca acreditara em nada. Nem nela mesmo, quanto mais num qualquer ser superior. Hoje, mais do que nunca, desejava ter uma fé inabalável, capaz de a levar a acreditar nos mais estranhos impossíveis. Afinal essa parecia ser a réstia de esperança e, sobretudo, de paz de outras pessoas na sua condição.
Olhando a fotografia dos três filhos que guardava passivamente na carteira percebia a ausência de sentido da sua vida. Podia ter sido muito mais para eles. Podia ter-lhes dado muito mais. Podia ter sido uma mãe a sério. Mas sempre rejeitara esse papel.
Agora era tarde demais. E, no entanto, só agora imaginava todas as tardes desperdiçadas, as idas ao cinema que ficaram por concretizar, as conversas que nunca aconteceram por falta de tempo, … Por isso apenas conseguia recordar a indiferença na voz dos filhos, dos seus filhos, quando diziam “mãe”. Como se dissessem qualquer outra coisa como “nada”. Nenhum significado, nenhum sentimento.
Nada fizera no passado que lhe garantisse uma vida feliz junto das pessoas que mais a amaram. E como a amaram. Como se dedicaram a fazê-la feliz, com pequenas surpresas, com lindos gestos. Amaram. Sem serem correspondidas. Porque ela simplesmente nunca tivera tempo para elas. Achara sempre que iria haver um amanhã. Esta atitude egoísta culminara num divórcio inevitável, numa total ausência de círculo de amigos, numa odiável fama no emprego e no afastamento dos filhos. Agora que o futuro lhe fora roubado, um adenocarcinoma terminal no esófago era o ponto final na sua história.
E como era irónico: nunca tivera dado tanto valor à vida, nunca desejara tanto viver, como no momento em que ouvira aquele diagnóstico fatal da boca de um médico indiferente. Indiferente como ela própria. Perante os outros e perante a vida. Restava-lhe apenas morrer. Algo a que, embora sem saber, já se habituara em vida.
publicado por Vânia Caldeira às 12:02

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