"Charles Joseph aprendeu a língua italiana com toda a facilidade e destreza. (...) Por vezes, substituía o estudo da tarde por um passeio a cavalo com o pai. Este ensinava-lhe tudo o que necessitava de saber sobre como caçar um veado ou como se desviar de um javali desembestado. Aprendia também tudo o que deveria saber para viver na corte: precedências, maneiras, modos de falar; seria um representante digno daquela casa. Não desejara ingressar em nenhuma ordem eclesiástica, embora à partida tivesse a garantia de um lugar de destaque em qualquer uma: um príncipe não deixaria de ser um bispo, ou um arcebispo, de alguma diocese importante. Não era esse, porém, o caminho que lhe estava destinado. Preferiu a carreira militar e as Letras, que eram a sua verdadeira paixão. Passava horas infindas a ler e a meditar sobre o que lia. As velas apagavam-se de noite e ele voltava a acender mais uma, e mais uma, até deixar cair a cabeça de exaustão. Tudo lhe interessava, desde a história às ciências, desde a religião à física. (...)
Sempre que necessário, deixava tudo isto para trás. Sabia quais eram as suas prioridades e não pretendia arruinar a vida em demanda do prazer puro. Haveria, certamente, outras etapas da sua existência em que poderia desfrutar dos frutos proibidos e de tudo o que eles apresentavam de sumarento e agradável. Assim, em menos de três anos, defendeu as suas públicas conclusões com aplauso de todos."
Maria João da Câmara, in Um Príncipe Quase Perfeito