Para sonhadores... Deixem-se levar... O blog mudou de cores, mas os sonhos são os mesmos...

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Out 06

"Eu lembro-me do que te disse sobre as responsabilidades. Mas não aguento tanta pressão, sobretudo porque cada vez odeio mais a ideia de ser médica. Tenho horror à morte, à doença, até ao sangue. Detesto o cheiro a medicamentos. Como é que eu posso ser médica assim?"

"Um médico não é um Deus. As pessoas morrem. Quando te morre algum doente, consegues comer, divertir-te... namorar?"

"- O que eu não quero é ir para Medicina.

- O que é que te fez mudar de ideias?

- Pai, eu odeio o sangue, os hospitais, a morte...

- Pois, mas isso é uma questão de hábito... Eu também tive algumas dúvidas. Olha, uma pessoa habitua-se de tal maneira que o hospital acaba por ser um vício.

- Mas os vícios são maus, não são, pai?

Ele sorriu à pergunta:

- Que queres dizer com isso, que não sou bom médico?

-Não. Tu sabes que és um excelente cirurgião. Mas, se pensares bem, vais concordar que tu e a mãe se separaram porque nunca estavam juntos e, na realidade, ainda hoje mal se conhecem. Que desde aí não consegues namorar com a mesma mulher mais do que uns meses. E são sempre elas que se cansam de esperar por ti. São sempre elas que te deixam, não é pai? Nenhuma mulher aguenta ser sistematicamente esquecida e posta sempre a seguir à profissão. Não te sentes só? Tu nem sequer tens tempo para viver a tua vida! Pai, eu quero viver, quero fazer aquilo de que gosto!

O Dr. Cerqueira levantou-se, coçou a cabeça. Não estava a gostar nada do rumo que as coisas estavam a seguir. Estava a tentar chamar a filha à razão e afinal ele é que estava a ser o alvo das atenções. Por isso apressou-se a mudar o rumo à conversa.

- Ser médico exige efectivamente sacrifícios. Mas eu sei que tu és capaz de os fazer e de seres uma óptima profissional. Assusta-te o trabalho que tens pela frente?

- Não pai, não se trata de ter medo ao trabalho. Eu não tenho vocação para ser médica. Toda a vida pensei que ia ser médica, porque toda a vida vivi rodeada por médicos, porque cá em casa só se falava em Medicina e porque sempre consideraram como um dado adquirido que eu viesse também a ser médica. Acabei por me convencer que era isso que eu ia ser. Mas nunca me perguntaram se de facto eu queria seguir Medicina."

Anabela Mimoso in Parabéns, caloira!

 

publicado por Vânia Caldeira às 18:41
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